Uma amiga postou hoje “numa rede social” (estilo Rede Globo de mencionar não mencionando) que estava com vontade de largar tudo e sumir. Minha primeira reação ao ler o seu comentário foi um pensamento singelo: por que pensamos sempre que, antes de fugir, temos de largar tudo. O que é esse “tudo” e o que representa esse “largar”? Fugir para onde?
Yearly Archives: 2012
O Ódio à Poesia
Acabo de me deparar no Facebook com alguém compartilhando a pequena história em quadrinhos acima. Logo que a li percebi que ali havia assunto para mais do que meramente um “Curtir” ou um “Compartilhar”, mesmo porque não me senti impelido a nenhuma das duas coisas. Como aquela rede social não é muito receptiva a elucubrações mais compridas, preferi postar aqui, mesmo sabendo que menos gente lerá, curtirá ou compartilhará. > Texto escrito em 2012 como resposta à divulgação de uma tirinha em que se manifestava […]
O Poetinha, o Maconheiro e a Ivete
O poetinha desceu do ônibus já suado e despenteado. O óculos empenado na cara, a camisa amassada pela viagem desajeitada, a umidade incomodando por debaixo da roupa, o hálito amargo devido ao nervoso e ao fígado. Bateu no peito para ter certeza de que seu poema, copiado com capricho na velha máquina de escrever, se encontrava ainda intacto. Não estava: tanto suor o amolecera. Retirou-o do bolso e desdobrou com cuidado, quase com lágrimas. O mesmo calor que o molhara não o secaria. Xingou algum […]
Piadas Não Precisam de Desculpas
Não é preciso explicar a piada, se você tenta é porque ela é ruim, ou então quem ouviu é um idiota. E não se esqueça que contar uma piada boa para um idiota é prova de idiotice também: o bom piadista adequa o chiste à capacidade do ouvinte, pois uma piada sobre queijos exóticos e filósofos alemães não funciona se você contar para o frentista do posto de gasolina enquanto ele calibra o pneu do seu carro. Dito isto, é preciso acrescentar que, se não […]
Em Nome dos Mortos
A Zona da Mata Mineira vive hoje uma crise – humana, econômica e ecológica. Por toda parte onde se vá, encontramos a descaracterização cultural, a perda das tradições orais, o esquecimento do artesanato (e da própria história) e, mais grave que tudo, uma absurda destruição da natureza que, de tão arraigada, deixou de significar apenas a remoção da vegetação nativa e agora está chegando à remoção do próprio solo e das montanhas: percorrendo a região vemos morros pelados, terra aparente, erosões, cursos d’água assoreados. A […]
E Lá Vem o Jabuti de Novo
E para quem achava que repetição de erros de organização era algo que só acontecia com o ENEM, «coisa do governo» e, portanto, incompetente, eis que, pelo segundo ano consecutivo, lá temos sob questionamento de novo o maior prêmio literário do país, o Jabuti, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. Para quem não se lembra, a polêmica do ano passado se deveu ao romance de autoria de Chico Buarque ter sido escolhido «livro do ano» mesmo sem ter sido vencedor em sua categoria. Trocando em […]
Mandando as Malas Embora
Decidi-me a um passo radical nas minhas relações facebookianas. Estou começando a cortar relações com pessoas com quem não tenho conhecimento direto e, simultaneamente, não formam, em minha opinião, um público potencial para a minha literatura. Vou cortando esta turma porque estou cansado de conversas vazias que não vão a lugar nenhum, cansado de gente cheia de certezas, idênticas ou opostas às minhas.
O Julgamento
Tradução de um trecho avulso de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (obra que se acha em domínio público, tradução feita por mim, ao improviso, já aviso). Com um título novidadoso, homenageante aos recentemente condenados. Dedicado aos que foram condenados, independente de serem ou não culpados, não pelo que fizeram, mas pelo que são. Disse-lhe o gato ao rato: “Venha logo seu bobo jogarmos um jogo: Vamos ambos à lei. Eu lhe serei promotor e tu réu. Venha agora o tribunal não demora. […]
Pequenas e Grandes Coisas
Tenho pouca paciência com as coisas grandes. Minha vida é tão pequena, e o mundo também. Tantas coisas grandes só servem para espremer-nos, Obrigar-nos, coagir-nos. Uma das vantagens de se fazer versos É que quando as linhas ficam assim, Umas encima das outras, Você pode dizer pequenos absurdos E as pessoas leem com seriedade. Os grandes absurdos, porém, estes não, Não cabem nas linhas curtas dos poemas. Para estas obscenidades que matam e que ferem São necessários ensaios e romances. Deixem em paz, portanto, os […]
O Golpe Circular da Montante
Às vezes a palavra que dizemos corta inadvertidamente quem está perto. É como brandir uma espada longa[^1] em círculo sem saber que alguém chegou pelas nossas costas. Culpa da espada? Do espadachim? Da vítima? Ou mero acaso. Anteontem ofendi seriamente um amigo facebookiano por causa de minha postagem aqui. Postei pensando num hábito irritante de dois ou três debatedores em um grupo político onde participo, sujeitos pedantes que gostam de pontuar suas frases com barbarismos léxicos achando que assim se mostram descolados. Essa fato me […]