Em Nome de Stallman e Torvalds, Salvai-me!

Devo ser o único ser vivente neste sistema solar que ainda insiste em usar nomes de arquivo padrão 8.3 (não, minha idade não é da sua conta). O arquivo se chamava roseira.odt (e isso não tem nada a ver com o título, exceto que em uma das histórias há um roseiral). Se você acha que isso é receita para algum azar, deve ter razão.

Não sou, também, nenhum exemplo de organização. Há mais a fazer do que tempo para organizar o feito. Meu computador está cheio de arquivos chamados Untitled, por exemplo (Untitled1.odt, Untitled2.odt), e quase tudo fica atirado em pastas aleatórias. Os ícones da minha área de trabalho são de arquivos antigos de um romance que eu estou tentando terminar há seis anos.

Basicamente eu me organizava pelo start-center do LibreOffice, onde aparecem as miniaturas de capas. Eu estava acostumado a ver os dez últimos arquivos em que estava trabalhando, e era isso.

Mas um dia, num acesso qualquer de bobeira, movi por acidente o arquivo “roseira.odt” para dentro de uma pasta chamada ~/.backup/blogpost/old/ e não me dei conta disso. No dia em que fiz a merda, não percebi nada.

Vida que segue, muita coisa a fazer, projetos diferentes. Não percebi que o ícone referente ao livro tinha desaparecido da tela inicial do LibreOffice. Oito meses se passaram, enfim lembrei do livro.

Procurei por ele nos lugares onde deveria estar. Necas. Gradualmente se instalou a preocupação. Repetidas buscas em vão trouxeram receio, medo, horror, terror, pânico, paúra, desespero. Roer de unhas, imprecações, velas acesas a todos os exus e anjos, riscar de pentagramas no chão, sacrifício de bodes, propostas de pacto. Nada funciona.

Por fim me lembro de pesquisar pelo arquivo usando a linha de comando do Linux, o último recurso do guerreiro perdido. Evoco os arcanos usando uma necromancia finlandesa: ls -type -f -name '*.odt' | grep "2016". Mas em vão, nada encontrado, segue o espanto, o suor frio, o regurgitar de ácido, o mover das tripas, o cthulhu ftaghn.

Mas me lembro que o tempo é relativo. Quer dizer, parece que foi há pouco, mas pode ter sido em qualquer ano desde que nasci. Então tento de novo, procurando em datas mais antigas: ls -type -f -name '*.odt' | grep "2015".

Então vejo um arquivo chamado roseira.odt perdido em uma pasta que eu jamais teria suposto. Então um filme passa pela minha cabeça: há quanto tempo, afinal, eu não mexo nesse arquivo?

Abro o arquivo, é ele!

Celebração, grito de gol, rápido apagar dos pentagramas antes que as entidades se manifestassem, rasgar dos contratos, três pulinhos para São Longuinho.

Fiquei quarenta minutos apavorado achando que tinha deletado por acidente o livro mais legal que eu escrevi na vida, e que ainda estava inédito.

Chegou mesmo a hora de reorganizar os meus arquivos. Valei-me santo Dropbox!

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