Arte Para Quem Goste de Arte

Às vezes nos perguntamos por que é tão difícil entender a arte moderna. É uma dúvida justa, visto que nem mesmo os que dizem entendê-la conseguem explicá-la. A impressão que temos é que o gosto dos amantes da arte é uma maçonaria mais impenetrável.

Creio que isso ocorre basicamente porque a arte não é feita gente como nós, como eu. A maior parte da produção artística de hoje é feita e consumida pelas altas classes, que utilizam a arte com várias finalidades, entre as quais exibir seu status social e o seu alegado bom gosto. O que nós vemos como arte é basicamente o que esse tipo de gente escolhe, preserva e ensina.

Para quem não é membro das classes privilegiadas com o gosto artístico, é inútil querer entender os limites entre a arte e a não-arte. Toda explicação que venha será obscura, parecendo ter a intenção de zombar de nossa inteligência (ou da falta dela). A menos que você já seja parte do esquema, o que você vê é aquilo que a criança viu quando o imperador passou usando a sua roupa nova. Só que na vida real a criança é posta em seu devido lugar pelo sistema, ou simplesmente ninguém liga.

Afinal a criança é ignorante, e há coisas na vida que só podem ser vistas claramente pelos ignorantes. Certos conhecimentos turvam nossa capacidade de ver a verdade porque nos traem para dentro do esquema, passamos a enxergar o mundo de forma a validar o conhecimento que adquirimos.

Não quero dizer que a arte moderna seja besteira, mas é bastante claro que nas últimas décadas ficou mais difícil diferenciar uma obra genial de um quadro que um retardado mental pintou. Ou um macaco. Pois não foi só uma vez que quadros pintados por primatas fizeram sucesso.

A principal diferença entre a arte do passado e a de hoje é essa dificuldade para se determinar a fronteira entre algo que “somente um macaco teria pintado” (palavras de um crítico de arte sueco) e o produto de um grande talento artístico.

O dadaísmo teve algo a ver com isso, e a arte não se recuperou nunca mais de todo.

E o público, cada vez menos chocado com isso, contribui para rebaixar o nível. No ano retrasado houve uma grande controvérsia aqui no Brasil sobre uma peça de teatro chamada “Macaquinhos”, na qual um grupo de atores rastejava em torno do palco, todos nus e enfiando os dedos nos alheios cus, produzindo uma rima óbvia e uma cena totalmente fora de propósito.

Veja a cara das pessoas na plateia. Estão todos plenamente convencidos de que estão a acompanhar uma obra de arte teatral, um momento inovador da arte de Téspias. Aqueles que fazem a arte hoje querem nos convencer de que essa peça de teatro e sua performance não são essencialmente diferentes de um drama de Ibsen.

Esse é o estado em que está a arte hoje. Mesmo os que veem algo errado se calam, porque falar é passar recibo de ignorante. É preciso aplaudir, pois se é incompreensível é porque é inteligente. Não queremos ser o menino ignorante que viu o pingolim do rei em vez do belo terno de tecido raro, que só podia ser visto pelos mais letrados, mas era invisível aos estúpidos.

Atores enfiando o dedo nos cus uns dos outros. Macacos pintando quadros que se confundem com os dos humanos. O que sabem disso as crianças? Elas não fazem roupas imperiais e nem entendem a mística de explorações anais.

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