Mais Coisas Para Não Fazer se Você se Tornar um Vilão Malvado

Além das Cem Coisas Para Não Fazer Se Você Se Tornar um Vilão Malvado, Peter Anspach recolheu mais de 150 outras sugestões, um pouco menos brilhantes, mas também interessantes. Esta postagem continua de onde a outra parou, acrescentando mais 86 lembretes para você que pretende dominar o mundo, ou pelo menos um reino. Não ordenarei ao meu oficial de confiança que mate o menino que está predestinado a me derrubar — eu mesmo o matarei. Não perderei tempo tentando fazer a morte de meu inimigo […]

A Perdição do Homem (Beatrix e Jeannelynne)

“Ó amiga e companheira da noite, ó tu que te regozijas no ladrar dos cães e no sangue derramado, que perambulas por entre as sombras entre as tumbas e trazes terror aos mortais! Gorgo! Mormo! Lua de mil faces, contempla favoravelmente os nossos sacrifícios”― H. P. Lovecraft (em “O Horror em Red Hook”) A porta se fechou e Beatrix suspirou o temporário alívio da primeira noite. Mas não se recostou para dormir, sabia-o impossível. Como recostar a cabeça em um travesseiro antecipando que o segundo […]

A Fila Não Incomoda

“A Fila Não Incomoda”: Um Manifesto Contra a Jornada do Herói e em Favor do Direito de Fazer Tudo Errado foi uma série de artigos que escrevi entre maio e junho de 2014, baseada em minhas leituras de alguns artigos críticos do conceito do monomito de Joseph Campbell. Estes artigos foram consolidados neste texto único, divido em partes usando a ferramenta do WordPress que eu só descobri hoje. Originalmente foram oito partes, mas eu acrescentei uma nona, e também uma conclusão e uma bibliografia. Os […]

Alguns Não Podem Ser Belos

A beleza é algo fundamentalmente polêmico. Sendo questão de gosto, é impossível definir um padrão que agrade a cada ser humano. Por isso não há unanimidade nem mesmo em relação a obras de arte consagradas (há quem ache a Mona Lisa feia, por exemplo) e o consenso, quando existe, é mais o produto de um condicionamento cultural do que de uma escolha racional. Esta semana tivemos uma prova do quanto o condicionamento cultural amortece o julgamento e, quando contestado, revela cavilosos sentimentos que as pessoas […]

Façamos a Literatura Feia

Em um mundo literário no qual o meu modo de pensar é visto como um desvio, uma falta de educação, é reconfortante, de quando em vez, ler alguém que também não se conforma com as nuvens róseas que pretendem predominar na literatura. Gustavo Czekster lavou a minha alma esta semana ao publicar no LiteraTortura [um artigo devastadoramente bom]) que expressa, melhor do que eu próprio o faria, aquilo que penso sobre literatura. E havia tanto tempo que não lia nada assim, que não me deparava […]

Phantasmagoria

Guilherme construíra a sua casa sobre as ruínas desconhecidas que ocupavam um excelente terreno urbano. Doze trabalhadores com suas máquinas removeram os restos, arrancaram os arbustos e aplainaram cada metro de chão. A construção teve percalços porque havia quem achasse certa importância histórica no lugar, mas não foi longe a questão: a casa estava esquecida, parecia impossível de recuperar e tinha uma fama de assombrada.

Apaixonei-me pela Vilã, e Agora?

Tenho uma relação de amor e de respeito com os meus personagens. Antes que você, leitor, me elogie por tal postura, devo confessar que isso é uma maldição nos dias de hoje. O público não quer, de fato, personagens respeitáveis, mas anti-heróis. Heróis não são mais críveis, ninguém mais leva a sério quem se move por um ideal. E por causa disso a relação de respeito que tenho por meus personagens, especialmente os que se parecem demais comigo, é um fator de descrédito da minha […]

O Preço da Passagem [3]

Não percebi quantos dias passei naquele lugar. Dizem-me que foram cinco. Nos primeiros dois ou três o homem do quepe tentou extrair de mim alguma informação sobre as pessoas com quem estivesse envolvido. Mas de alguma forma, segundo consta dos relatórios a que hoje tenho acesso, graças ao habeas data, eu apenas circulava em torno da ideia de ter entrado em algum barco em companhia da falecida Jurema, de ter saído sozinho e a deixado lá. Assinado um tal Tenente Cavalcanti.

O Preço da Passagem [2]

Tardou ainda por algum tempo incontável, mas não demasiado que nos desesperasse. Soou uma outra buzina de navio indo para o mesmo lado do primeiro. Ouvimos o já conhecido chapinhar de pás, sentimos o farfalhar das roupas da multidão, talvez ansiosa, acendeu-se a trêmula luz vermelha de uma lanterna e o batel encalhou na areia. Desceu o barqueiro vestido da mesma maneira monacal que os anteriores, o rosto recoberto pela sombra de uma dobra de tecido — e dentro dela um brilho desagradavelmente avermelhado e solitário.

O Preço da Passagem [1]

A última coisa que vi na noite escura de 26 de abril de 1967 foram luzes azuis e vermelhas no retrovisor. “Malditos milicos, nos acharam!” — pensei e acelerei na vã esperança de fugir, mas logo perdi o controle em uma curva fechada da estrada para Araruama. Jurema gritou e se encolheu, o carro atingiu a sebe com um baque e um farfalho, tudo muito rápido, e caímos pela ribanceira. Apenas tive tempo de pensar que muitos anos depois da ditadura talvez nos considerassem mártires estudantis e dessem indenizações a nossas famílias. A ironia disso me fez suportar tudo sorrindo, enquanto o rádio do Aero Willys tocava Beatles rumo ao abismo: *She’s got a ticket to ri-i-i-de, but she don’t care…*