Podemos Ainda Perguntar Algum Porquê?

Toda criança já teve a fase filosófica em que perguntava o “porquê” de cada coisa. Há um determinado momento da vida em que desejamos ativamente participar do entendimento do mundo, penetrar o universo das respostas, aparentemente habitado pelos adultos. Perguntamos os porquês de cada coisa que nos entristence, fascina, amedronta ou seduz. Não é uma reação de rebeldia, é apenas curiosidade. Toda criança que já teve essa fase já passou, também, pela decepção de descobrir que os adultos apenas “parecem” ter todas as respostas. Incapazes […]

Não Matemos os Livros por Causa de Nossos Pecados

Eu entendo muito bem quem se ressente da existência de “sexismo”, “racismo”, ou puro mau-caratismo em obras literárias (ou quaisquer outras), mas acredito que essas pessoas padecem de um imenso equívoco quando começam a focar nessas imperfeições das obras literárias do passado. Não chego a dizer que é “mimimi” (mesmo me coçando a língua para dizer), mas que são três os problemas desse entendimento: Anacronismo — frequentemente queremos cobrar de autores do passado um conhecimento que eles não poderiam ter. Non Sequitur — a incapacidade […]

O Que Fazer com a Arte de Pessoas Execráveis?

Com o recente terremoto de acusações de assédio sexual contra personalidades do mundo do cinema voltou à baila um antigo debate, nunca inteiramente superado, sobre a maneira como a sociedade deve lidar com a obra de pessoas que se mostraram detestáveis. Esse debate talvez tenha sido feito pela primeira vez de maneira ampla após a Segunda Guerra Mundial, quando várias personalidades do mundo da arte e da filosofia haviam simpatizado com o nazismo: Martin Heidegger, Knut Hamsun e Louis-Ferdinand Céline foram autores que enfrentaram graves […]

A Literatura Moderna não é nada além de uma Salada de Palavras Anti-Intelectual

Tradução do artigo de Kitten Holiday para o Writing Cooperative, com autorização. Esta semana dois autores de meu círculo estavam preocupados com a mesma questão: Por que a literatura moderna é tão ruim? Pelo que eu sei, esses dois autores não se conhecem. Eles estão em círculos políticos parecidos (direitistas, conservadores) mas em diferentes círculos criativos, o que fez a coincidência de seu interesse comum ainda mais fascinante. Uma questão semelhante tem também estado em minha mente: “Por que parece que não tem surgido nada […]

Capas “Arrombadas” e a Necessidade de Evoluir

Essa semana eu fiz uma coisa que é impensável para muitos escritores: eu mesmo “denunciei” os meus livros a uma página do Facebook chamada “Capas Arrombadas”, que se dedica a zombar da má qualidade do design das capas de certos livros, principalmente e-books à venda no Amazon. Fiz isso por dois motivos: primeiro não dar aos meus dois ou três inimigos1 o prazer de fazê-lo e segundo porque eu pensava em melhorar algumas de minhas capas e queria uma opinião externa e isenta sobre quais […]

Autores que Não Leem Ensinam o que Não Sabem

Uma das consequências da falta do hábito da leitura entre nossos autores é a falta do domínio pleno da língua portuguesa, cada vez mais tida como disciplina optativa entre os que escrevem o futuro de nossa literatura. O sucesso de autores como Paulo Coelho e Raphael Draccon, que deixam transparecer em seu texto uma imensa ignorância da gramática, da estilística e da tradição de nossa língua serve como poderoso argumento em favor da superfluidade da cultura no idioma pátrio. De repente usar o vocabulário preciso […]

Os Seis Arrogantes Literários

Esta postagem é baseada em um tópico criado por Daniel Gruber na comunidade Escritores Ajudando Outros Escritores, no Facebook. Não é recomendável a leitura se você for do tipo suscetível. Existem seis tipos de personalidades arrogantes que não entendem como funciona a literatura e o mercado literário. Estas pessoas ajudam a difundir ideias ultrapassadas, ideologias nocivas e comportamentos estúpidos. Estes são os seis tipos (os quatro primeiros citados pelo Daniel Gruber, o quinto por Daniel Iturvides Dutra e o sexto por mim): O primeiro arrogante […]

Arte Para Quem Goste de Arte

Às vezes nos perguntamos por que é tão difícil entender a arte moderna. É uma dúvida justa, visto que nem mesmo os que dizem entendê-la conseguem explicá-la. A impressão que temos é que o gosto dos amantes da arte é uma maçonaria mais impenetrável. Creio que isso ocorre basicamente porque a arte não é feita gente como nós, como eu. A maior parte da produção artística de hoje é feita e consumida pelas altas classes, que utilizam a arte com várias finalidades, entre as quais […]

Obras Ininteligíveis

Vamos combinar uma coisa: não existem obras “altamente intelectuais” em que o autor não consegue passar sua mensagem e não há obras “com grande carga emocional” com as quais o leitor não consegue se identificar. A própria definição de intelectualidade exige clareza. Uma obra inteligente é inteligível. Pode ser que não seja inteligível para mim, por me faltar bases teóricas ou experiência de vida para captar o que ela diz, mas obscura não é. O adjetivo que se deve dar a obras “em que o […]

Relembrando a Crítica Literária Mais Demolidora de Todos os Tempos

Em 1989 o humorista, cartunista, tradutor, poeta e cronista brasileiro Millôr Fernandes publicou uma série de pequenas crônicas sobre a obra do então presidente José Sarney. Estes textos, em seu conjunto, formam a mais demolidora crítica literária jamais publicada em português. Não somente pela notoriedade dos envolvidos — um presidente da república e o outro colunista da revista de maior circulação no país — mas também pelas incríveis tiradas com que Millôr brinda o texto criticado, o que acaba por eternizar a ruindade de uma […]