Conselhos Mal Traduzidos

Na semana passada eu comecei a falar sobre o problema de se adotar conselhos sobre estilo originalmente escritos pensando na estrutura gramatical e morfológica de uma língua diferente da nossa. Hoje ponho mais carne nesse argumento, citando os seis conselhos mais nefandos que eu já encontrei até hoje: Evitar a voz passiva; Economizar adjetivos; Evitar os advérbios; Show, Don’t Tell; Preferir palavras curtas. A voz passiva soa estranha em inglês exatamente porque já são muito numerosos os tempos e modos verbais expressos através de paráfrases, […]

Não Existem Prazeres Simples, Simplesmente Existem Prazeres

Toda mensagem tem um emissor e um destinatário. Conseguir encontrar o tom correto é essencial para que ela seja sequer compreendida, quanto mais apreciada. Em geral as mensagens mais efetivas são aquelas em que o interlocutor não tem de processar informações novas. Porém a escrita não se limita à sua função comunicativa. Há diferentes tipos de textos e cada um deles requer linguajar diferente. Você não escreve para a sua namorada uma mensagem no mesmo estilo que usa quando escreve uma lista de compras: 1 […]

Por que Nossa Literatura Fantástica Continua Marginal?

Esta semana a minha bolha nas redes sociais se agitou com a discussão sobre o artigo de Santiago Nazarián para a Folha de São Paulo, em que se aborda um tema que parece incomodar aos autores de ficção fantástica: ela continua supostamente relegada a um papel marginal — desprezada pela crítica e incapaz de “deixar uma marca” na cultura nacional, seja lá o que isso quer dizer. Acredito que esse debate está, de saída, viciado por três problemas: Nossos autores raramente possuem uma conexão profunda […]

Um Faroeste Farofeiro

Francamente, eu poderia escrever uma resposta inteira só a respeito de letras ruins da Legião Urbana, um grupo que transformou a sua maior fraqueza (a lírica) na suposta marca maior de sua qualidade (Renato Russo, “o poeta do rock”). Poderei, se algum dia me pedirem, por hoje eu me limito a Faroeste Caboclo, o “hino” de uma geração que não sabia muito bem o que seria um hino. Eu poderia começar falando das rimas pobres, das estruturas sintáticas forçadas a marteladas e das construções que […]

Não Matemos os Livros por Causa de Nossos Pecados

Eu entendo muito bem quem se ressente da existência de “sexismo”, “racismo”, ou puro mau-caratismo em obras literárias (ou quaisquer outras), mas acredito que essas pessoas padecem de um imenso equívoco quando começam a focar nessas imperfeições das obras literárias do passado. Não chego a dizer que é “mimimi” (mesmo me coçando a língua para dizer), mas que são três os problemas desse entendimento: Anacronismo — frequentemente queremos cobrar de autores do passado um conhecimento que eles não poderiam ter. Non Sequitur — a incapacidade […]

Como Mudar a História com uma Letra

O escritor e tradutor português Jorge Candeias sugeriu em seu perfil do Facebook um joguinho besta, mas interessante como exercício imaginativo. Tão interessante que está rolando há três dias e já chegou a mais de 300 postagens. A ideia é “estragar”, ou seja, perverter de forma evidente, um título perfeitamente bom de uma obra literária conhecida **alterando apenas uma letra**, seja pela adição, pela subtração ou pela substituição. Na qualidade de participante do tópico, deponho aqui também as minhas contribuições e aqui vai a lista […]