Letras Elétricas Somem no Ar

Ontem tive pela terceira vez este ano o desprazer de perder totalmente um texto em que estava trabalhando. Tratava-se de uma bonita crônica sobre poesia, poetas e esquisitices poéticas, que traçava o caminho entre a escrita de um poema de 39 versos e sua cristalização em um curto dístico, forma definitiva e total que ele teria. O texto se perdeu porque meu computador, que anda com a placa de vídeo problemática, travou subitamente enquanto eu o escrevia. Mas meu PC não foi o único culpado. […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte Final

Voltar ao Índice Se as editoras conseguirem o que querem, implantarão suas “equipes cocriadoras” e tentarão amestrar todo jovem autor que as procurar querendo divulgação. Muitos talentos serão castrados. Para os corajosos, como a porta da rua é serventia da casa, restarão os desertos da independência. Meu Deus, a horrível liberdade. Uma “equipe cocriadora”, no contexto da literatura, é um conceito tão monstruoso que foi preciso mais de um século para ele tomar corpo, desde que as editoras começaram a contratar revisores que iam além […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 5

Voltar ao Índice A era eletrônica, o paraíso do editor. Ou melhor, do censor. Antigamente se poderia bem dizer que “livro é como passarinho”, depois que saiu da prateleira da livraria ninguém mais controla. Hoje em dia é possível revogar a publicação do livro, apagar do dispositivo chique o arquivo ofensivo que não deveria ter saído. Mas, acima de tudo, hoje em dia é possível fazer as “correções” na redação do escritor-aluno até que seja aceitável no contexto da edição-escola. Onde foi que esqueceram pelo […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 4

Voltar ao Índice Vocês devem estar imaginando, então, que eu sou mais um que celebra o futuro esfuziante que vem aí. Que sou contra as ferramentas de controle do conteúdo, mas que abraço entusiasticamente o mundo eletrônico. Nem tão depressa assim, motorista, pare o ônibus do futuro, pois quero descer. Quero voltar para minha casa, achar meu próprio armário debaixo da escada, ali me esconder, com minha velha máquina de escrever, e então, de dentro da escuridão desse meu canto, oferecer-lhes meu vislumbre desse futuro. […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 3

Voltar ao Índice Na postagem passada eu argumentei que o “livro eletrônico” entre aspas (marketeado como “e-book”) não é um produto novo, mas uma tentativa de mercantilizar algo que já existe. E que o objetivo do “e-book” não é oferecer conteúdo, mas controlá-lo. O livro é uma ferramenta muito poderosa. Tão poderosa que ele, praticamente sozinho, acabou com a Idade Média e produziu esta sociedade em que você vive, este Admirável Mundo Novo, cheio de tantas pessoas adoráveis. Não acredite nos historiadores tradicionais: o mundo […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 2

Voltar ao Índice Comecei a postagem passada dizendo que o “e-book” é uma “buzzword” poderosa, que adquiriu um caráter de dogma, e cuja crítica é retrucada com o anátema. Esta é uma característica predominante de nosso tempo: após décadas de modernismo, caracterizado pelo pensamento multifacetado, vivemos uma era de aspiração ao pensamento único, sob o signo do infame “fim da História” apregoado por Francis Fukuyama, nome que será eternamente lembrado pela ignomínia. Algumas “buzzwords” nomeiam coisas que efetivamente existem, são novas e se consolidam, como […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 1

Voltar ao Índice Discutir o tema “livro eletrônico” é clamar por encrenca. Como toda “buzzword” da era da internet, “e-book” é um conceito que adquiriu uma aura de dogma e qualquer tentativa de dissensão resulta em anátema. Aliás, qualquer pessoa que se preocupe com “firulas” como “privacidade” e “direitos” acaba sendo tachada de coisas horríveis, tal como fazem com o Richard Stallman — um sujeito brilhante, embora pouco hábil para cativar as pessoas pela simpatia, ingenuamente imaginando que as pessoas são racionais e compreendem argumentos […]

Não Vamos às Estrelas, Baby…

Há anos um parágrafo escrito por Howard Phillips Lovecraft não me sai da cabeça. Já o devo ter traduzido uma dezena de vezes, para postar em duas ou três dezenas de lugares. Aqui vai a décima primeira tradução, como introito deste artigo que, mais uma vez, me alijará de alguns amigos e leitores: A coisa mais misericordiosa no mundo, creio, é a incapacidade da mente humana para interligar todos os seus conhecimentos. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio aos mares negros do […]

Não Acredito em Sorteios

É claro que eu ocasionalmente me arrisco com um bilhete de loteria (geralmente a Mega Sena), afinal não faz mal correr o risco de subitamente ficar milionário. Mas eu nunca aposto mais do que exatamente um bilhete e não tenho hábito de apostar nada mais. Isto é porque eu não acredito em sorteios, bingos, rifas, , milagres, títulos de capitalização ou acasos felizes. Não acredito porque jamais ganhei nada em minha vida. Todas as poucas coisas que tenho eu tive que comprar com dinheiro ganho […]

Não me Peçam de Graça o que Tenho para Vender

Reza uma lenda urbana que um certo cantor gaúcho certa vez entrou em um boteco e encontrou um palhaço comendo uma coxinha com Coca-Cola. Um palhaço desses que animam festa infantil e vendem balões na praça. Dizem que o famoso cantor, bêbado ou drogado (sabe-se lá), implicou com palhaço dizendo-lhe: “Ei, palhaço, faz uma palhaçada para a gente aí”. O palhaço, talvez já de paciência esgotada por aguentar crianças, ou por não ser a primeira vez que lhe provocavam, deixou a coxinha sobre o balcão […]