30
agosto
há 15 anos
Uma das diferenças entre pornografia — que não é arte — e erotismo — que pode ser ou não — reside no tratamento do assunto. Na primeira, o conteúdo se resume ao tema apresentado: não há sutileza, não há enredo. Nem questionamento, nem inquietude, nem objetivos do autor. Oferece-se ao público exatamente aquilo que espera, sem levar de contrabando nenhuma semente de rebeldia. Não existe manifestação humana mais reacionária e nem mais conformista do que a pornografia. Talvez por isso, mesmo sendo severamente proibida por […]
30
agosto
há 15 anos
O amor partido deixa dentro da saudade a marca de saudades mais profundas e anteriores. Saudades que não são vontades. As saudades que lhe tenho, ex-amor, não querem tê-la mais; querem algo que não se sabe. Quando a vejo agora, não sinto nada. Porém quando a vejo em sonhos, sinto uma quase dor. Eu amo ainda quem você foi, mas esqueci quem você é. Até os ciúmes que lhe tenho agora não são de você estar com outro, mas de ter estado comigo. Esta espécie […]
29
agosto
há 15 anos
Aparentemente, os jovens, especificamente os que gostam de escrever, possuem um fascínio pela morte digno de nota. Nove em dez jovens autores já escreveram algum texto contemplando a ideia do suicídio (eu mesmo fiz isso nos meus vinte anos), dez em dez fizeram da morte de alguém (real ou imaginário) o tema de algum texto que julgam significativo. Nada disso é novo, no entanto: morrer sempre foi fashion. Nos tempos românticos de antanho, quando as pessoas ainda levavam literatura a sério e a palavra “antanho” […]
29
agosto
há 15 anos
Estou perdido e sem poesia numa vida alheia que invadi. Sinto-me intenso e estranho e nada mais ruge dentro de mim. Nas palavras não restam dilemas e nem poeira de estrelas repousa sobre sonhos que murcharam. Logo estará deserto o dia e eu dormirei uma paz sem hora. Metade de minha própria história corro em busca do metal mais raro. A outra metade está sem graça porque repousa para cada dia. Sinto tenha sido assim. Mas as palavras, ainda que isentas, Serão sempre um falso […]
29
agosto
há 15 anos
Na minha cidade havia uma casa enorme, mansão dos tempos dos barões do café, que estava abandonada e tinha um jardim também impressionante. O jardim ficava detrás de altos muros e estava tomado já de ervas, depois de décadas de esquecimento. Mas quando olhávamos pelas gretas do portão, víamos lá dentro aquelas árvores exóticas, aquelas fontes onde já não jorrava água, cobertas de mato. Havia uma dignidade, uma disposição artística ali. Algo que o descuido não apagava. Era um desafio comum em minha infância saltar […]
28
agosto
há 15 anos
É preciso ter a ingenuidade que só a ignorância permite. Somente assim é possível a coragem de dizer certas coisas que, mesmo necessárias, permaneceriam caladas na boca do sábio que as reconhece ditas por outras bocas, de outros sábios. Lá fora brilha um sol de versos e de flores e os sorrisos denunciam que morreu o inverno. Outro poema aberto jaz diante dos autores E ninguém consegue expressar sua certeza nele. Porque esse poema ecoa outro poema que nasceu de outro numa genealogia infinita de […]
27
agosto
há 15 anos
Quando a noiva finalmente surge à porta, banhada na luz externa e com um buquê de rosas brancas adoravelmente à mão, Alberto eu sei o quanto queres sentir conforto por algum tempo. Mas és traído pela memória das dificuldades que viveste entre o dia em que Júlia entrou em tua vida sem pedir licença e este bendito instante em que parece que ela resolveu, afinal, acreditar que não és o tolo que a primeira impressão a fez pensar que eras. Ela vem andando com graça […]
27
agosto
há 15 anos
Dei-me conta hoje de que “Os Meninos do Brasil” (que eu acabei de ler em três ou quatro prazerosas horas de distração) foi o primeiro livro que eu li desde maio de 2004! A surpresa decorre do fato de eu ter sido sempre um leitor voraz de todo tipo de literatura, especialmente romances, obras históricas, livros de referência geral e jornalismo. Quando estive cursando os últimos quatro anos do primário (hoje Ensino Fundamental) me lembro de ter lido mais da metade da biblioteca de minha […]
26
agosto
há 15 anos
Este texto foi escrito nos tempos em que eu ainda não era persona non grata em certos círculos pseudo literários do Orkut, numa época em que ainda havia quem achasse que eu tinha conselhos a dar. Como nunca fui de bancar o padre e nem de fazer análise do sonho alheio, eu costumava usar de bom humor para provocar as reflexões que me interessavam. E de quebra, para justificar que lessem, eu botava de entremeio algum conhecimento extraído de minhas leituras ao longo da vida. […]
26
agosto
há 15 anos
E disse Freud à multidão de seus discípulos: — Não percebeis que o hábito de fumar é uma sublimação? O homem que fuma nada mais faz do que compensar sua libido adulta por uma frustração sofrida durante a fase oral de seu desenvolvimento psíquico! A personalidade do adulto é influenciada pelo que viveu enquanto menino. Um fariseu junguiano infiltrado entre os discípulos o interpelou: — Mestre, o senhor fuma! Sofrestes também uma frustração em vossa fase oral de desenvolvimento? E disse Freud a esse fariseu: […]