De Tanto Ver Triunfarem as Nulidades…

…assim começa um famoso raciocínio de Rui Barbosa, parte de um de seus perfeitos discursos. Feliz era o Brasil no tempo em que os políticos de seu Congresso ainda encontravam tempo para redigir discursos. Mas não quero falar de Rui Barbosa e nem de nulidades, apenas mencionar como, tantas vezes, procuramos justamente aquilo que nos faz mal. Eu poderia estar feliz hoje, poderia estar tinindo de alegria com os contatos que fiz ontem no Festival Literário de Cataguases, poderia estar comentando sobre elogios e críticas […]

Mortos Não Dão Unfollow

Fila de banco. Detesto, como muita gente. E como todo mundo tenho que ir. Aliás, eu devia agradecer por haver fila de banco no mundo: ninguém sobreviveria na minha profissão sem poder relaxar durante uma hora aguardando o atendimento. Antigamente era ruim, hoje tem até banquinho acolchoado para a gente sentar. Daí eu posso apenas ligar o som no meu telefone e ficar ouvindo alguma coisa dentro da minha cabeça, me injetando ritmo enquanto os caixas matraqueiam com os dedos nos teclados baratos. Fila de […]

O Lobo do Leme

Nos encontramos em um bar imaginário, durante uma digressão sonambúlica. Tentei assaltá-lo com uma pergunta, mas ele é refratário a tais abordagens e sempre reverte a tentativa com uma proposição inesperada. Ontem, por exemplo, quando lhe perguntei quem eram as pessoas cujos nomes ele me recomendara conhecer, ele ignorou o que eu dissera e me perguntou se eu tenho escrito. Reconheço que é inútil tentar conduzir a conversa quando se trata dele, então acabei aceitando a pergunta, na esperança de que as dobras do assunto acabassem por esbarrar na resposta do que eu queria descobrir.[…]

Tenho Livros Como Quem Tem Gatos

Eu costumava ter gato. Adorava acarinhar aquele bicho, mas ele não tinha muito gosto por afagos. Um dia ele morreu, nem lembro do que, e eu comecei a esquecer. Nunca mais pude ter gatos. Quando cresci fiquei alérgico e fui viver num apartamento. Passo o dia fora e não tenho quem cuide de bichos para mim e detestaria deixá-los cagando soltos. Lembro com saudades do bichano, mas tudo que tenho para me consolar são meus livros. Os livros são mais ou menos como gatos. Você […]

Carta a José

As lições que você ensina, José,1 há outros professores para ensinar, inclusive melhor que você e sem essa necessidade de autoafirmação que o leva a ofender os outros. O verdadeiro mestre não é o que humilha o seu aluno, mas aquele que faz o ignorante se sentir à vontade para aprender. Você não é um mestre, é um perdedor que se agarra a migalhas de conhecimento que obteve, procura fazer com que pareçam maiores do que são (independente do tamanho real que tenham) a fim […]