Coisas Novas

Tenho saudades de coisas tolas, de pequenos sonhos que tive, de coisas simples que passaram cedo e deixaram uma falta, uma ausência, uma forma de pesar só manifesta em lágrimas que pendem sem cair e pensamentos que pensam sem surgir. Foram pequenas coisas que vivi, sentimentos que não me alegraram, migalhas de emoções que me serviram mas depois levaram e eu não comi. Essas saudades de coisas belas, são pequenas provas de que antes — mesmo estando só e sendo infeliz — eu conhecia uma […]

Quando Morreu Minha Poesia

Quando morreu minha poesia passei a viver sem uma alma e tenho estado assim, semi-cadáver, faz tantos anos que nem lembro se fui completamente humano, como pude saber sorrir. Tornei-me alguém sem sentido, abdicando de prazeres e formas e esta hemi-pessoa que fiquei suporta mal sentimentos, próprios e alheios, sustenta mal ilusões de feitos que nunca passarão de projetos. Há tanto tempo que acostumei-me e tenho feito isso sem querer — suavemente abandonando sonhos, sinteticamente assaltando signos e deixando tudo atravessado, deixando tudo me deixar, sorvendo […]

Sobre o Vento

Um belo dia eu senti a mão da vida, meu rosto não gostou, meu sangue me ferveu e quando abri os olhos havia uma névoa densa desbotando a paisagem. Senti a mão da vida me ancorar à terra. Eu que era uma pipa solta ao vento, percebi que a linha era curta e que amarram uma ponta em algum peso. Desde esse dia ficou claro, quando cair, não mais subirei. Mas quanto subiria se tivesse toda a linha que quisesse? Essa é apenas outra coisa […]

No Mundo em que Vivo

No mundo em que vivo poesia não é mais necessário, flores são somente formas toleráveis. Talvez por isso seja tão urgente que perpetre poesia, que irresponsavelmente plante cores. Com a futilidade frágil de uns versos insisto contra a sólida imagem de coisas brutas que venceram e cuja impermeável razão de ser forma o alicerce de minha casa. Pensem nisso se me virem por aí, falando só, olhando vago. Estarei meditando meu próximo atentado contra a cinza escuridão que me enxerga e que envergo como um […]

Reflexos da História em Abril

Em Marte talvez não exista mais nem consciências e nem um céu anil. Que bom que eu não vou voltar mais lá em nenhuma outra encarnação. Na corte de Babilônia o destino sobe pelas paredes e os valores caem por terra. Quando os dedos de Javé resolvem, outra vez o rei se torna analfabeto e o destino cobra pelo atraso. Os homens de Atenas, os que mataram os filósofos, tinham toda razão: a liberdade não é um cidadão. Originalmente escrito em 1º de abril de […]