O Livro Vazio

Quando me lembro de escrever coisas bonitas,Coisas que antigamente faziam mais sentido,Entendo como mudei tanto e quantas vidasViveria se tivesse os meus versos cá comigo. Neste fogo frio não vigoram mais ações antigasQuando fecho os olhos, esqueço o que foi lido.Então me lembro de escrever coisas bonitasA minha mente vazia não vive nenhum rito. Sem metáforas, portanto, eu fecho o livroQue não escrevi, de tanto que ainda viaMurchar o mundo que eu conhecia. Por aqui antigamente se estendia um fio,O traço escuro que brotava de […]

O Poeta Em Busca de um Mapa no Pântano da Crise

Escrever é fácilEscrever bem não é tão fácilEscrever boa literatura é difícilObter reconhecimento é muito difícil. Fica mais fácil escrever bem quando você se especializa.Porém fica mais difícil escrever. Ou você tem mais talento bruto,E ainda precisará de dedicação e formação,Ou se erguerá pela força do trabalho e da técnica– E ainda precisará de ter algum talento. É improvável ser genial em qualquer gêneroE é mais fácil escrever mediocremente vários gêneros,Porém é, também, mais fácil ser horrível de muitas maneirasDo que é difícil ser de […]

Os Precários Araçás de Pequeri

Eu não sei por quanto tempo ainda habitarei esta cidade, esta casa, este corpo, este plano. Este fruto que apanho tem o azedo da infância, tem a beleza da primeira cor; perdida numa curva da planície a que chamam vida. Plantada a ávore, lenta espera em um jardim que é meu, por ora, onde uma esperança viveu, mas já não mora. Não sei o quanto ainda tenho, ou quanto escorre. A fruta é um momento, que já morre.

Dois Lados

Toda fotografia tem uma história O lado de dentro, o lado de fora. Toda cena conserva a escolha Do olho atento de quem a olha. Aquém da camada de cor, De cá onde estás, espectador, Esteve um outro, vivendo real O instante estático, artificial, Cujo calor o vermelho não tem. Se a lente jamais se inverte, O olhar se fixa numa forma inerte, Porém a foto contém uma história, Perdida além do limbo da folha Incapaz de mostrar dentro dela O que máquina nem mesmo […]

Amor de Lua

A pedido de uma amiga virtual, voltei a ser letrista. Ela me passou algumas ideias e eu transformei sua história de amor em um poema pronto a ser musicado. Você me pede uma coisa e outra e quer para já. Garota esperta, espero neutra, e você não vem cá. Você é de lua, eu sou devagar. Você sempre muda, eu muro um lugar. Não se decida, não quero ainda hoje é dançar. Ainda é tão cedo, eu tenho medo na hora H. Você é de […]

Povo Marcado, Povo Feliz

Há dois tipos de pessoas úteis no mundo. As que acendem o fogo e as que o apagam ou controlam. A civilização não existiria sem o fogo. Mas seria consumida sem seu controle. Por muito tempo foi teoria de conspiração o envolvimento americano no golpe de 1964. Que Vladimir Herzog fora morto no DOPS, onde foi meramente “dar depoimento”. Por muito tempo foi teoria de conspiração que Jim Jones fora envolvido com a CIA. Por muito tempo duvidaram que Georgi Markov foi morto pela KGB. […]

Mais Fácil Dizer que Sim

Dedicado a Renato Russo e aos fãs da Legião Urbana. Ninguém quer os detalhes: Ser triste não está na moda. Então arreganha esses dentes (mesmo que os olhos discordem da boca) e vai dizendo que crê em tudo que viste, que o mundo é perfeito e as pessoas são felizes. Segue em frente, pois alguém ainda tem a cura para esse vício de sentir nessa saudade insistente de tudo que não foi visto nem vivido. Nos deram espelhos e vimos um mundo saudável.

Sinais Imprevistos de que a Idade Adulta Chegou

Você nunca mais se deita sem pensar no que vai fazer no dia seguinte. E fica “contandos os minutos que faltam de mais um dia chato.” Quando acorda, tem sempre algo doendo. Embora você já não creia no amor romântico, ainda sente falta de ser amado. É fácil ganhar peso e difícil perder. Você começa a pagar para clarearem seus dentes e escurecerem seu cabelo. Nasce cabelo onde não serve para nada e rareia onde você queria que houvesse mais. Você começa a procurar nas […]

Letras Elétricas

Sonhos difusos pintados num muro de cores cruas. Pensamentos precários se turvam de novidades. E letras elétricas ardem na lápide líquida e lisa. Ardem sinais sinuosos que somem em cinzas que não deixam mal na matéria e nem bem na memória.