Lendo

Ler é prazer, é busca, encontro. É satisfação, inquietude e desencontro. Leio porque preciso De um jeito impreciso Sorver antônimos e cores Nas formas das letras e nomes. Lendo me abro portas, quando fecho os olhos E me abro a mente para outros modos, Dissonantes, alheios, diferentes. Quando a porta se abre na alma A mente se desprende E meu olhar se transforma. Lendo conheci países, Bebi de fontes desconhecidas, Estranhas, fascinantes. Não leio por qualquer coisa: Leio apenas porque preciso, Porque livros são o […]

Cruzar a Ponte

Quando passo pela ponte sinto uma vertigem que me atrai em direção à água. É um instante de terror em que quase me imobilizo. Não posso correr, pois isso me desequilibraria. Tenho de ir devagar, medindo os passos e ignorando o rio ao mesmo tempo em que mantenho o olhar fixo em suas águas regurgitantes. Cruzo a ponte todos os dias para ir ao trabalho. Se não me causasse tanta vergonha minha vertigem eu poderia encontrar algum meio de evitar cruzar a pé, mas de […]

Apenas Teimo Ser Poeta

Meu problema é essa teima de poeta, de ser humano, de ter desejos que não cabem nos limites de beijos porque não beijas a inquietude que eu quero. E eu preciso interromper esta agonia de nada acalentar quando sonho. Sonho sim, e não me obedeço porque quero sonhar voos que não devo e é a tua mão que me amarra com amor e com afeto, com açúcar e veneno. Menti que a amava, agora peno consequências de um mal que planejei: a felicidade quieta de […]

Pode-se Viver

Pode-se viver de amor, mas principalmente morrer. Não faz bem pensar assim, mas é uma verdade que treme quando o homem se consome pensando em pesos contrários e sentimentos marcados. O amor foi uma verdade durante séculos de mito, hoje é um amargo apenas la língua de quem beijou. Fala-se dele como do morto parente que um dia se amou. Pode-se viver de amor, mas principalmente está morto o amor de que se vivia no tempo em que era fácil morrer. Por isso apague aquele […]

De Improviso, a Alma

De improviso, a alma lembra algum rastro de um livro que passou pelos sonhos de um dia que senti como outro dia dentro de uma vida que passa de improviso e se arrasta quase livre, mas ainda aqui retida. Na estante do passado existe espaço em um corredor imerso em penumbra, pelas prateleiras pulsam páginas propelidas por pequenos pensamentos e abortos de pensamentos, que caíram antes de serem inseridos em projetos. Cada livro que é largado sem ser lido na biblioteca do profundo esquecimento, cada […]

Não Tomo Juízo

Não tomo juízo: prefiro tomar cerveja, ou um caminho diferente. Estou cansado de gente que tem juízo e tudo, que sempre prevejo vão no mesmo caminho e não sabem da cerveja o que faz de bem. Não tomo juízo: tomo o pé do rio e tento o outro lado. Estou cansado de pensar, creio querer sentir. É uma pena que tanta gente precise pensar tanto: para eles é como se o pensar fosse penoso. Penso como respiro e preciso é sentir.

O Que Seria da Minha Rebeldia?

Em algum momento, em 1995, eu datilografei em uma página de papel-ofício os seguintes versos: O que seria / de minha rebeldia / se eu não fosse um rapaz da burguesia / acometido pelo tédio da escrita / e um diploma superior? Decerto eu estava pensando nas polêmicas de Lobão, artista cuja arte pouco me interessa, mas cuja filosofia sempre me instigou. Acho que se João Luís Wönderbag escrevesse logo o primeiro volume de suas memórias produziria uma obra mais relevante que toda sua música […]

Evitando Saudades

Dormirei com você nos braços de meus sonhos, Levarei o toque de sua pele na ponta de meus deus dedos e deixarei amanhecer em meus cabelos o perfume dos seus, secar meus lábios o calor que vivemos. Sonharei a cada noite levar você de novo àquele pátio, para ver a lua envenenar sua inocência. Guardarei comigo aquela imagem tão fatal e gradativa. Esperarei que você venha habitar também estes jardins por onde perambulo a pensar aonde ser as coisas que andei querendo e ninguém nunca […]

Outra Vez

A humildade da humanidade amenizada pela imanência de coisas que sonhamos com saudade de um plano nosso apenas inconcluso, objetos que despontam como alentos de uma esperança que precisa de futuro. Foi nisso que produzimos templos, por causa disso pirâmides, relógios, navios que soçobraram nos oceanos, guerras que entretiveram os milênios. Todas essas coisas filosóficas são apenas gritos da alma em agonia, em cada lei e em cada pedra dorme um deus, um sonho que alguém teve e que morreu. Tudo que fazemos é outra […]

Ruído

Remova o ruído de sua mente, desobstrua o horizonte azul com a demolição do muro que o pára. Espere que o certo se acrescente como o inverno enviado pelo Sul. Quando o silêncio estiver lá dentro, a beleza brilhara cá fora e entenderás a luz de outro jeito. Colecione informações, guarde as peças que montarão no fim, talvez parcialmente, o retrato do que está além das coisas, da flora que fulge dentro dos rochedos que navegam pelo céu tão quietamente. Quando estive pronto, sente-se ao […]