O Tratamento Homeopático da Solidão

Comecei tendo os primeiros sintomas quando era ainda estudante. Vivia longe da família numa cidade distante e demorei a me enturmar com os meus colegas da faculdade: eles zombavam de meu dialeto, me chamavam de caipira e não compreendiam os meus valores. Isto me afastava das festas das repúblicas e progressivamente me empurrou para longe da vida social: aluguei um apartamento no centro da cidade e tinha um emprego de meia jornada. Posteriormente eu me formei e o meu chefe me ofereceu o emprego em […]

Considerações Sobre a Imobilidade

Eu devo ser uma das pessoas mais inquietas desta cidade. Não por ser irrequieto: não sou nenhum «azougue» (palavra herdada de minha avó que eu guardava numa bonita caixa e fiquei anos tentando encaixar numa crônica, até finalmente conseguir). A questão é que eu preciso estar constantemente com a minha mente ocupada de algo. Nenhuma pessoa leva tão a sério que a mente vazia é a «oficina do demônio» (e olha que eu nem creio nele). Pensar é imperativo. Se eu não tiver algo sério […]

Brasil: Um País Exótico

No tempo em que eu ainda participava ativamente de comunidades literárias do Orkut, antes de ser reduzido a uma impessoa pelo proprietário delas, eu postei um trecho de um romance que estou desenvolvendo, que tem o título provisório de “Serra da Estrela” (cada dia gosto menos desse nome). Trata-se de um romance do gênero suspense/terror ambientado em algum lugar no interior de Minas Gerais (talvez um lugar que só exista em um universo paralelo) e cujos principais personagens são um lobisomem, uma mula sem cabeça […]

A Montanha

De qualquer ponto da cidade se pode ver a Montanha com sua ampla face de granito, uma larga presença a esconder o horizonte. Seu cume coberto de ralas árvores e rochas menores não é tão imponente, a não ser por estar tão alto. Subindo imponente como uma muralha, firmeza de séculos, sem flores nem poemas, é mais que um acidente geográfico, tornou-se parte da personalidade de Santa Cruz do Monte. Ao pé da montanha cresceu a cidade, contemplando o granito e se agarrando à lama […]

A Vampira de Leopoldina

Estamos tomando uma cerveja no Maneira Mineira quando a figura aparece outra vez, envergando o mesmo sobretudo negro de ontem. Tem os olhos mergulhados numa poça disforme de maquiagem borrada, as orelhas pontiagudas adornadas por alguns brincos de prata, a face pálida parece uma tela virgem perdida no meio da cabeleira solta, esvoaçando, de cor morta e penteado inexprimível. Ela não sorri, parece incomodar-se com o ruído selvagem desta praça animalesca onde se acasala a juventude, mas mesmo assim tão deslocada ela está aqui. Ninguém […]