A Invasão

Esta noveleta cheia de ação, aventura e cães famintos é um dos nove textos que compõem a coletânea “Mythos Mineiros” e é o mais original, em minha opinião, embora talvez não o melhor. Certamente será o que mais agradará ao público jovem, ligado em aventuras, por causa do grande número de elementos de aventura e do ritmo narrativo ágil. Nela encontramos isolados no mais improvável dos lugares, um bordel de alta classe em uma cidade do interior, um grupo de sobreviventes de um evento apocalíptico. […]

Tá Nervoso, Vai Pescar

Nenhuma atividade humana me parece menos adequada ao relaxamento do que pescar. Dizem que é bom para enfrentar o nervosismo, mas só se você quiser enfrentá-lo num ringue de artes marciais. Pescar de vara, anzol e linha é algo que só é concebível se você já sai de casa completamente relaxado, sem sombra alguma de nervosismo. Começa pelo fato de que — ao contrário de ioga, meditação ou drogas — pescar envolve um longo e demorado deslocamento até o meio de lugar nenhum onde os […]

A Fazenda da Serpente, 8

> Parte da série [A Fazenda da Serpente](/lit/2014/10/nova-serie-a-fazenda-da-serpente) As chances não pareciam boas. Demóstenes e seus homens conheciam os arredores e certamente a fuga de Rufino não era a primeira. Mas o tenente não queria se entregar tão fácil, nem deixar tantas boas armas e munições nas mãos daqueles mise­ráveis. A um aceno Maneco o seguiu, mesmo ainda não entendendo nada, porque adquirira a sabedoria que o medo ensina nessas horas. Correram pelos fundos da casa, mas Rufino sentia nos ossos que seriam cercados. Lembrou […]

A Virgem do Sabá

Jovita emba­lava a menina nos bra­ços e Jerônimo as con­tem­plava, entre embe­ve­cido e des­con­fi­ado. Lembrou da noite em que a conhe­cera, não teve receios nem remorsos — sen­tiu-se, na verdade, cheio de orgu­lho de ter sido tão homem e recos­tou na cama, arfando o peito como se os pulmões inflassem dentro de uma estreita gaiola enferrujada e dezenas de nava­lhas subis­sem com a res­pi­ra­ção. Fechou os olhos, igno­rou o cheiro dos remé­dios e dos chás, e sentiu-​se de novo na noite da Serra dos Caramonos.[…]

Aventuras em Rio das Ostras, Parte III

Depois de apenas um dia e meio de praia, a segunda feira amanheceu vestida de um som tão lindo que dava vontade de xingar, pois não tínhamos mais roupa limpa — e nem onde lavar. Como não queríamos comprar roupas novas para cada novo dia, e também porque a semana era a última das férias, com muita pendência ainda a resolver, pusemos as bagagens na mala e pegamos a estrada.

A Paisagem com Salgueiros

Original de Clark Ashton-Smith. Traduzido a partir da versão online em Eldritch Dark. A pintura tinha mais de quinhentos anos e o tempo não mudara suas cores, senão para tocá-las com a tenra suavidade das horas antigas, com a morbidez acumulada de coisas passadas. Fora pintada por um grande artista da dinastia Sung, em seda da mais fina trama, e montada em uma moldura de ébano arrematada em prata. Por doze gerações fora uma das mais queridas posses dos antepassados de Shih Liang e igualmente […]

Aventuras em Rio das Ostras, Parte I

Só hoje, passadas já algumas semanas de minha única viagem de turismo nas férias, é que consegui reunir tempo e inspiração para narrar a verdadeira Odisseia que vivi, só que levando minha Penélope junto. Foi uma viagem dessas que você faz do jeito que não se deve fazer, e houve tanta coisa inesperada que eu quase me surpreendi de ter conseguido voltar inteiro para casa, trazendo a família e o carro.

Tempo de Semear, Tempo de Colher

Estas montanhas têm uma história, desde os tempos dos índios, desde antes do primeiro português cortar a primeira árvore. Eles vieram, viveram, morreram, viram o mal que havia e se foram, ficaram apenas alguns pobres puris isolados, entocados quase como bichos. Vieram os emboabas a caminho das minas, tentaram fixar-se aqui, mas não ficou nenhuma vila, queimaram todas as casas, sumiram no tempo como se nunca tivessem pousado, e a estrada real passou ao largo.

Em Nome dos Mortos

A Zona da Mata Mineira vive hoje uma crise – humana, econômica e ecológica. Por toda parte onde se vá, encontramos a descaracterização cultural, a perda das tradições orais, o esquecimento do artesanato (e da própria história) e, mais grave que tudo, uma absurda destruição da natureza que, de tão arraigada, deixou de significar apenas a remoção da vegetação nativa e agora está chegando à remoção do próprio solo e das montanhas: percorrendo a região vemos morros pelados, terra aparente, erosões, cursos d’água assoreados. A […]