Não me Peçam que Salve a Nossa Cultura

Sou um escritor amador. Isto significa que me acomete uma série de dificuldades no exercício do que, para mim, está limitado a mero hobby. E mesmo assim ainda tenho de ouvir certas opiniões espantosas. O escritor — inclusive o amador — tornou-se subitamente um ser incensado com grandes responsabilidades: é ele quem deve dar continuar a tradição da “língua pátria”, construir a “identidade nacional”, oferecer “bons exemplos para os estudantes” etc. É muita atribuição para alguém que só tem algum respeito quando ganha muito dinheiro. […]

O Fetiche do Livro e a Polêmica dos Livros Didáticos Malditos

Nas últimas semanas o Brasil foi assolado pela polêmica de um livro didático que supostamente toleraria o “erro de português” e, por consequência, provocaria o caos de nosso sistema educacional, corromperia nossa juventude, nos transformaria a todos em homens das cavernas dizendo uga-buga. Agora que esse assunto começa a cair no esquecimento merecido que o caso merece, ressuscitam a discórdia citando um suposto livro de matemática que ensinaria que 10-4=7 (olha que absurdo!). Não li nenhum dos dois livros, embora tenha ousado atacar os argumentos […]

Mais Compreensão do que Estudo…

Não é a primeira vez que eu vejo esse tipo de opinião circular pelo mundo. Mas desta, como apareceu na Internet, percebi que era preciso comentar. A história tem tantos lados quanto podemos imaginar. E, na boa, história exige mais compreensão do que estudo: decorar datas é mais fácil que compreender os fatos nelas ocorridos. Como todo mundo se mete a entender de história só porque viu… documentários, leu meia dúzia de livros tendenciosos e viu o horário político, a nossa ciência está jogada na […]

A Menina Que Gostava de Ouvir Histórias

Gabriela era uma menina comum, filha de pais bem comuns, que morava numa casa bem comum numa cidade qualquer. Como quase todas as meninas ela gostava muito de histórias e não passava uma noite sem pedir que seu pai ou sua mãe lhe contassem uma antes de dormir. Infelizmente os pais de Gabriela não sabiam muitas histórias. Eles eram pessoas ocupadas e sem paciência, passavam seus dias trabalhando e reclamando da vida — não tinham muito tempo para divertir-se e muito menos para ler livros […]

Vai Começar… o Estupidification…

Há algumas semanas divulgou-se uma estarrecedora pesquisa segundo a qual aproximadamente 80% dos estudantes brasileiros, ao término do primeiro grau, ainda não haviam adquirido plena competência da leitura; número que não era significativamente reduzido ao fim do segundo grau (porque, obviamente, não há espaço na escola secundária para trabalhar a alfabetização), e que ainda tinha impacto nos cursos universitários. Nada menos que 5% dos formandos em cursos superiores seriam analfabetos funcionais (e uma boa outra quantidade seria incompletamente alfabetizada). Pois bem, há alguns dias, em […]

Dilemas de Estudante de Literatura

Um estudante de literatura postou o seguinte no Orkut: > Gostaria de ajuda para entender as diferenças entre o realismo e o romantismo-naturalismo. Sempre disposto a dar cola para a nossa juventude que enfrenta os dilemas da graduação sem pré-requisitos, postei o seguinte: > O Romantismo-Naturalismo é uma corrente literária caracterizada por uma abordagem esquizofrênica da vida, ao mesmo tempo valorizando os sentimentos e compreendendo-os como fruto dos instintos humanos. O exemplo típico do romântico naturalista está nas letras do *funk melody* e do sertanejo […]

Literatura e Política: Para Todos e Para Ninguém

Nietzsche colocou em seu livro “Assim Falou Zaratustra” um subtítulo interessante: “um livro para todos e para ninguém”. Trata-se de uma declaração quase esfíngica: como um livro pode, ao mesmo tempo, ser destinado a todo mundo e a ninguém? A solução do enigma surge quando você analisa o livro em si, pelo seu conteúdo e pela sua forma. Quanto à forma, é um livro para todos devido ao estilo bíblico e linear da narrativa (sim, embora escrito por um filósofo, trata-se de uma narrativa): supôs […]

Nossas Escolas Odeiam os Livros

Os professores brasileiros odeiam livros. Desde pequenos os alunos são ensinados a odiar livros e revistas. Não existe uma classe sequer de primário na qual os alunos não sejam ensinados, quase diariamente, a destruir revistas e livros “velhos” para fazer cartazes. Esses pobres livros e revistas são sacrificados como cobaias em nome do conhecimento. Crescem as crianças acostumadas a meter a tesoura no papel impresso. Ao mesmo tempo, temos a apostila, essa descartável publicação que todo ano se renova. A apostila é o conhecimento compactado, […]