Não Sigo Correntes

Meus amigos reclamam que eu não envio de volta respostas às mensagens que recebo. Confesso: é verdade. Confesso mais: toda mensagem que seja enviada a mais de um destinatário, devido a um filtro configurado em meu programa de correio eletrônico, vai direto para a lixeira sem que eu sequer a tenha visto. Infelizmente, alguns de meus amigos só lembram de mim na hora de incluir o meu nome em uma imensa lista de destinatários de alguma mensagem irrelevante. São, talvez, esses amigos que reclamam que eu nunca lhes respondo. Mas me justifico: nunca respondo porque eles, de fato, nunca me escrevem.

Uma mensagem enviada simultaneamente para dezenas de destinatários não é mais mensagem coisa nenhuma. Tal mensagem se transformou num tipo de propaganda. Tornou-se impessoal. Não me sinto «lembrado» quando meu nome é incluído, entre dezenas de outros, para receber uma mensagem.

Claro que há razões que justificam a existência de tais mensagens. Não quero polemizar quanto a isso. Apenas não aceito tais razões e não me interesso por tais mensagens. Se eu quisesse mensagens massificadas eu poderia assistir a televisão, ouvir o rádio, ou simplesmente visitar um sítio na internet.

Mas isso nem é ainda tudo. Muitas dessas mensagens que seguem para dezenas de destinatários contêm o apelo a que cada um dos receptores a reencaminhe. Não é raro eu receber mensagens que já foram reencaminhadas quatro, cinco vezes. O ato de reencaminhar não custa nada, sequer custa a leitura atenta da mensagem, quanto mais uma reflexão sobre o conteúdo. E graças a pessoas que reencaminham sem pensar no que fazem que temos os boatos virtuais que circulam pela internet, difamando pessoas públicas, divulgando mentiras.

Eu não compactuo com isso, não reencaminho mensagens, não envio mensagem a mais de um destinatário, salvo raramente, e cada vez mais raramente. Se mais pessoas fizessem o mesmo uso que eu faço do meu espírito crítico, não teríamos a repetição cíclica de boatos sobre a sexualidade de cantores, sobre o fechamento de certos serviços públicos (o www.dominiopublico.org.br, por exemplo, está sendo fechado «por falta de acessos» desde 2002, mesmo sendo um dos sítios mais visitados deste país) ou sobre a saúde humana. Os especialistas em lendas urbanas, aqui e lá fora, conhecem histórias de arrepiar sobre pequenas tragédias causadas por boatos. Infelizmente, muita gente colabora na divulgação dessas mentiras. Colabora porque o dedo é mais rápido que a mente (se bem que em certos casos até uma tartaruga manca parece ser mais rápida).

Portanto, se você não tem recebido nenhuma mensagem minha, se acha que eu não sou um bom amigo, lhe peço que ponha a mão na cabeça e se pergunte quando foi a última vez que você realmente me «escreveu». Quando foi que abriu uma janelinha do correio eletrônico, digitou algumas frases saídas de sua própria cabeça e me perguntou coisas de seu interesse. Se você sequer chegar a por a mão na cabeça, com certeza, a resposta será «nunca» ou «há muito tempo». Os amigos que me escrevem sempre jamais teriam esta dúvida.

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