O Amor Partido

O amor partido deixa dentro da saudade a marca de saudades mais profundas e anteriores. Saudades que não são vontades. As saudades que lhe tenho, ex-amor, não querem tê-la mais; querem algo que não se sabe. Quando a vejo agora, não sinto nada. Porém quando a vejo em sonhos, sinto uma quase dor. Eu amo ainda quem você foi, mas esqueci quem você é. Até os ciúmes que lhe tenho agora não são de você estar com outro, mas de ter estado comigo. Esta espécie […]

Quase Perdido

Estou perdido e sem poesia numa vida alheia que invadi. Sinto-me intenso e estranho e nada mais ruge dentro de mim. Nas palavras não restam dilemas e nem poeira de estrelas repousa sobre sonhos que murcharam. Logo estará deserto o dia e eu dormirei uma paz sem hora. Metade de minha própria história corro em busca do metal mais raro. A outra metade está sem graça porque repousa para cada dia. Sinto tenha sido assim. Mas as palavras, ainda que isentas, Serão sempre um falso […]

O Flautista

Amaralina tinha sido uma cidadezinha qualquer, com casas entre bananeiras, mulheres entre laranjeiras, pomares e amores para quem quer que soubesse vivê-los. Seguia sua vida besta bem devagar, entre montanhas bem altas, rios suficientemente traiçoeiros e solo providencialmente pobre de qualquer coisa que o bicho-homem pudesse querer arrancar à força de máquinas e dor. A gente de lá era arredia e desconfiada de estranhos. Colonos tricentenários, muito pouco acostumados a quem não tivesse o falar líquido que eles tinham aprendido com os índios e os […]

História de Amor Sem Amor

Augusta estava deitada quieta, nua, olhando para o teto, com o suor do corpo ainda evaporando após o amor, aquela sensação fresca, aquela preguiça, aquele formigamento… — Venha morar comigo. Assim, de repente, foi que Humberto pôs no ar a frase, solta e súbita. Mesmo a princípio se sentindo agredida, ela reagiu com moderação. — Não é assim, Humberto. Não faz ainda nem cinco meses que a gente se conheceu. — Por que não? Cinco meses me bastaram para querer você. Não devemos nada a […]

Amores Que Perdi

Gosto mais de escrever para amores que perdi do que para amores que ainda ouço em mim. Não é porque o passado seja confortável; mas há mais motivos na saudade que na vida e ser poeta é ser triste, a sensibilidade é frágil e nos quer mergulhando em abismos que outros veem à distância e apenas acham belos. Da próxima vez que for feliz, haverá mais música, mais beijos e mais certezas. Mas também vou esquecer minhas promessas porque o amor é exigente e arisco. […]

Secretária Eletrônica

Um dia Mariana abandonou Roberto, sem explicações e sem rituais. Apenas foi-se embora de sua vida, sem que mesmo fosse para ir viver com outro homem. Revoltado, magoado, diminuído, ele passou dias remoendo a raiva, impotente. Por fim rendeu-se à paixão: ligou para o auxílio à lista e descobriu seu novo telefone. Sem pensar duas vezes, ligou para fazer juras de amor, na esperança da volta. Debalde, quem atendeu foi a secretária eletrônica: — Aqui é 3666–4545. Por favor, deixe seu recado após o sinal. […]

Evitando Saudades

Dormirei com você nos braços de meus sonhos, Levarei o toque de sua pele na ponta de meus deus dedos e deixarei amanhecer em meus cabelos o perfume dos seus, secar meus lábios o calor que vivemos. Sonharei a cada noite levar você de novo àquele pátio, para ver a lua envenenar sua inocência. Guardarei comigo aquela imagem tão fatal e gradativa. Esperarei que você venha habitar também estes jardins por onde perambulo a pensar aonde ser as coisas que andei querendo e ninguém nunca […]