Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 4

Voltar ao Índice Vocês devem estar imaginando, então, que eu sou mais um que celebra o futuro esfuziante que vem aí. Que sou contra as ferramentas de controle do conteúdo, mas que abraço entusiasticamente o mundo eletrônico. Nem tão depressa assim, motorista, pare o ônibus do futuro, pois quero descer. Quero voltar para minha casa, achar meu próprio armário debaixo da escada, ali me esconder, com minha velha máquina de escrever, e então, de dentro da escuridão desse meu canto, oferecer-lhes meu vislumbre desse futuro. […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 3

Voltar ao Índice Na postagem passada eu argumentei que o “livro eletrônico” entre aspas (marketeado como “e-book”) não é um produto novo, mas uma tentativa de mercantilizar algo que já existe. E que o objetivo do “e-book” não é oferecer conteúdo, mas controlá-lo. O livro é uma ferramenta muito poderosa. Tão poderosa que ele, praticamente sozinho, acabou com a Idade Média e produziu esta sociedade em que você vive, este Admirável Mundo Novo, cheio de tantas pessoas adoráveis. Não acredite nos historiadores tradicionais: o mundo […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 2

Voltar ao Índice Comecei a postagem passada dizendo que o “e-book” é uma “buzzword” poderosa, que adquiriu um caráter de dogma, e cuja crítica é retrucada com o anátema. Esta é uma característica predominante de nosso tempo: após décadas de modernismo, caracterizado pelo pensamento multifacetado, vivemos uma era de aspiração ao pensamento único, sob o signo do infame “fim da História” apregoado por Francis Fukuyama, nome que será eternamente lembrado pela ignomínia. Algumas “buzzwords” nomeiam coisas que efetivamente existem, são novas e se consolidam, como […]

Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 1

Voltar ao Índice Discutir o tema “livro eletrônico” é clamar por encrenca. Como toda “buzzword” da era da internet, “e-book” é um conceito que adquiriu uma aura de dogma e qualquer tentativa de dissensão resulta em anátema. Aliás, qualquer pessoa que se preocupe com “firulas” como “privacidade” e “direitos” acaba sendo tachada de coisas horríveis, tal como fazem com o Richard Stallman — um sujeito brilhante, embora pouco hábil para cativar as pessoas pela simpatia, ingenuamente imaginando que as pessoas são racionais e compreendem argumentos […]

Ideia para um romance

Debate sobre a possibilidade da existência de Deus, em uma dessas comunidades céticas do Orkut. Desesperado diante da irredutível descrença da turma, um evangélico postou a seguinte colocação: Suponha que você morresse e se reconhecesse em um corpo espiritual, sendo que nesse corpo você ainda seria capaz de pensar e raciocinar, sendo a única diferença entre estar vivo e estar morto a incapacidade de interagir com o mundo material, preservando, desse modo, a identidade e a individualidade. Nesse estado você ainda teria dúvidas da existência […]

Falácias do Hermano do Herbert Sobre o Marido da Joelma

O artigo que motivou esta resposta já não se encontra on-line, apesar do conselho de Tim Berns-Lee, mas eu mantenho aqui o que escrevi porque ainda acredito que seja relevante. Chimbinha me deu de presente seu CD solo, chamado Guitarras que Cantam, hoje uma raridade que deveria ser relançada para os fãs conhecerem suas origens. Era um disco de guitarrada, claramente herdeiro das invenções dos mestres Vieira e Aldo Sena, que foram muito populares em toda a Amazônia no início dos anos 80, antes da […]

Justiceiros Virtuais

A internet sempre foi um “antro da liberdade” em um mundo repleto de convenções. Nunca antes na História existiu um mecanismo tão poderoso para agregar minorias, compartilhar opiniões e difundir conteúdos. A liberdade subterrânea, no entanto, também atrai aproveitadores e, com estes, justiceiros cegos e suas táticas arrasa-quarteirão que, com a desculpa de atingir os aproveitadores, miram certeiramente na liberdade. Através da internet doutrinas antes relegadas ao subterrâneo têm um espaço permanente para sua difusão, podem ganhar adeptos e podem ser entendidas pelos não-adeptos. Movimentos […]

Grãos de Areia na Praia

Se a ciência pudesse contar quantos grãos de areia existem no mar… Assim começa muita retórica obscurantista vazia. Menosprezar a busca do conhecimento é uma tática milenar que os líderes religiosos empregam para mostrar a si mesmos como a melhor, se possível única, cereja do bolo. Desqualifique as explicações e lucre com a confusão. Assim vive a religião, há tanto tempo que ninguém sabe contar. Como toda retórica vazia, esta também se baseia num erro conceitual. Isso não tem muito importância para quem dela se […]

O Monstrinho no Armário

Júlia era uma menina cheia de manias. Principalmente era cheia de manias ruins ou esquisitas. Manias que aprendia de seus colegas, parentes, vizinhos, etc. Recentemente Júlia aprendeu a chorar. Nas primeiras vezes ela chorou naturalmente. O choro que as crianças choram quando perdem ou quando não acham, quando não têm ou quando quebram, quando querem e não podem ou quando não querem e têm que fazer. Mas a mãe de Júlia não tinha paciência e tinha tanta pressa em se livrar logo do choro da […]