História de Gente Trabalhadora

Essa história não é só engraçada, ela é completamente surrealista e não ficaria mal em um filme do Buñuel. Era 1993 e eu estava em uma “missão secreta” a serviço do BEMGE, banco em que eu então trabalhava. O Credireal estava fechando várias agências no estado e o BEMGE as assumiria para manter os serviços em funcionamento. Como os fechamentos de agência eram segredo, não foi possível fazer preparativos: nos reunimos no domingo de manhã para um dia inteiro de treinamentos em Juiz de Fora, […]

Leituras de “Dom Casmurro”

A primeira obra que eu li de Machado de Assis foi o “Dom Casmurro”. Eu tinha 12 ou 13 anos e esse livro estava entre os que havia na biblioteca de casa. O que me chamou a atenção foram as cenas do amor juvenil de Bento e Capitolina. Aquilo ali me parecia muito idílico e muito parecido com o que eu desejava. Identifiquei-me muito com o Bentinho e queria muito ter a minha Capitolina. Acontece que eu não li de uma vez só — certos […]

Os Que Falham e os Que Nem Tentam

Aqueles que nunca tentam ainda subestimam as catástrofes da derrota, e os que falharam superestimam os confortos da covardia. Perder é horrível, falhar é cabuloso, acovardar-se é detestável, não viver por medo de errar o tornará um velho amargo. Sou especialista em ambas as coisas porque tenho um longo histórico de covardias alternadas com falhas e sucessos de vários tamanhos. Aos quarenta e seis anos posso dizer com certeza de que não há pior ou melhor, sempre que enfrentar uma escolha difícil, falhar ou fugir […]

Antes Que Ele Falasse…

Ah, o velho “abóbora”, nascido em 1982 em São Bernardo do Campo e pintado de verde-claro por fora, forrado de vinil e napa por dentro. O cheiro dos bancos de vinil era inigualável, uma mistura de mofo, pêlo de morcego e perfume entranhado de antigos passageiros. Inesquecível lata-velha com aquele buraco no chão do lado do carona, onde certa vez enfiei o pé durante um exercício romântico. O carro em que era impossível fazer baliza porque só tinha retrovisor de um lado. Aquele carrinho de […]

Gol de Placa, Gol de Pato — Parte 2

Haviam deixado para mim a camisa 2, embora eu fosse pivô, e eu secretamente gostara disso, porque achava que era o meu número de sorte. Comecei o aquecimento enquanto Leleco tomava analgésicos e derramava lágrimas surdas. Meus companheiros de time pareciam não acreditar. — Geraldo, vê se não estraga. — Gente, confiem em mim, quando meu time precisou de mim no torneio, lembrem, eu entrei e marquei três vezes. — Marcou sim, lembrou o Xandão. Entrou num jogo que ganharam de 26 a zero, quando […]

Gol de Placa, Gol de Pato — Parte 1

Ninguém esperava que a Escola Estadual Dr. Norberto conseguisse passar pela fase de grupos do torneiro de futebol de salão dos Jogos Escolares. O time fora montado às pressas, mas conseguiu uma vitórias e um empate, e poderia se classificar para as quartas de final em segundo lugar se mantivesse outro empate com o Colégio Cataguases na última partida da chave, estando já eliminado o Clóvis Salgado e praticamente fora o Professor Quaresma. E todos estavam em pânico pela possibilidade de sucesso. Disse que o […]

Como Ensinar Literatura a uma Criança?

Este domingo me ofereceu um desafio literário incomum: minha filha me pediu que lhe ajudasse a escrever uma redação para um concurso. Gabriele tem, aos dez anos, toda a ingenuidade e a fantasia de uma criança que ainda não perdeu a pureza. Ela ainda não conhece quase nada das dificuldades da vida, das frustrações, dessas coisas que nos fazem desperdiçar sorrisos e cabelos com o passar dos anos enquanto vemos esgotarem-se todas as oportunidades que tínhamos sonhado. Por isso ela acha que é possível, da […]

Aventuras em Rio das Ostras, Parte III

Depois de apenas um dia e meio de praia, a segunda feira amanheceu vestida de um som tão lindo que dava vontade de xingar, pois não tínhamos mais roupa limpa — e nem onde lavar. Como não queríamos comprar roupas novas para cada novo dia, e também porque a semana era a última das férias, com muita pendência ainda a resolver, pusemos as bagagens na mala e pegamos a estrada.

Aventuras em Rio das Ostras, Parte I

Só hoje, passadas já algumas semanas de minha única viagem de turismo nas férias, é que consegui reunir tempo e inspiração para narrar a verdadeira Odisseia que vivi, só que levando minha Penélope junto. Foi uma viagem dessas que você faz do jeito que não se deve fazer, e houve tanta coisa inesperada que eu quase me surpreendi de ter conseguido voltar inteiro para casa, trazendo a família e o carro.