O Pior Presente Que Se Pode Ganhar

Os piores presentes que alguém poderia lhe dar incluem uma gravata, se você, como eu, não tem o hábito de usar, meias, que sempre serão menores que o necessário, caso sejam presenteadas, e também aqueles agasalhos de lã feitos em casa por uma de suas tias, sempre empregando duas cores absolutamente discordantes. Bem, minto. Há um presente pior que qualquer destes: canetas. Tentarei explicar. Canetas não são muito úteis hoje em dia, em que as pessoas normalmente escrevem mais em teclados ou superfícies sensíveis ao […]

O Editor Superstar

Esta semana o jornal O Globo publicou matéria sobre Gordon Lish, editor americano que em certa época editou a Esquire. A matéria é extremamente interessante para amadores como eu, mas para profissionais também. Acredito que há muita reflexão produtiva que se pode fazer a partir do conteúdo. A primeira impressão que o texto me deixou foi profundamente negativa, um sentimento de verdadeira repulsa. Afinal, o tipo de relação entre editor e autor que é defendido por Lish (e pelo autor da reportagem) não parece nada […]

Render-se à Jornada do Herói é Conformar-se

Veja bem. Há uma quantidade limitada de elementos possíveis na ficção. Cabe ao autor utilizar esses elementos de uma forma sábia, para construir uma história legal. Eventualmente você pode até descobrir um elemento novo, mas não veja isso como obrigação. Aqueles que propõem a Jornada do Herói como um paradigma obrigatório estão, porém, muito errados. Comecemos pelo óbvio: impor a Jornada como um método para construção de narrativas significa criar uma receita de bolo, abolir a criatividade do autor, enfiar todo mundo numa forma. Se […]

Chega de Histórias Machistas

Estamos em pleno século XXI e certas modas parecem não desaparecer de jeito nenhum, o machismo sendo uma delas. Mesmo na literatura, onde supostamente deveria imperar um tipo de artista mais crítico e mais hábil no manuseio de abstratos, o machismo segue dando as cartas. A Jornada do Herói e o Machismo Uma das formas pelas quais ocorre a perpetuação do machismo na literatura é a adoção servil da “Jornada do Herói” como um modelo padrão para toda história. Acontece que este é um modelo […]

Elegia pelo Brasil que Seria

Consumado o ato final das manobras ritualísticas que resultaram no fim inexorável de um governo natimorto pelas circunstâncias atrozes da nossa política, resta-nos avaliar a extensão do desmonte. A impressão inicial destes primeiros dias é a frustração de uma derrota irreparável, como se o país tivesse decidido abortar-se. Os sinais enviados pelo novo governo sugerem entreguismo, retrocesso, autoritarismo e obscurantismo, e tudo em modo berserk. A reorganização ministerial sinaliza para uma radical inversão de prioridades, e a nova estrutura sugere uma mudança política que ninguém […]

Como Dormir num Domingo e Acordar na História

Quebrando ou não o decoro do Parlamento, o cuspe do Jean lavou nossa alma pois reconstruiu o decoro de toda uma classe. Ele “mitou”, como se diz. Acredito que seus eleitores estarão a pensar: valeu a pena votar nesse veado cabra-macho só para ver ele cuspir naquele monte de bosta. Não é todo eleitor que pode se orgulhar de não ter desperdiçado um voto. Essa cusparada trouxe mais respeito à comunidade homossexual do Brasil do que quarenta mil textões de internet. Jean Wyllys entrou para […]

A Beleza do Coronelismo a Gente Vê por Aí

A julgar pelo que ando ouvindo de comentários, na próxima segunda feira (depois de amanhã) estreará na televisão mais uma novela de época em que o canal [ainda] hegemônico tentará nos convencer que o latifúndio, o coronelismo e a pistolagem são coisas maneiras. Não é nenhuma novidade que a televisão — um meio dominado por umas poucas e poderosas famílias, aparentadas a tudo quanto há de mais retrógrado nesse país — tente fazer a hagiografia da estrutura de classes herdada do período colonial, o que […]

O Pecado da Tristeza

Lançado pela ComArte (editora-laboratório da USP), O Pecado da Tristeza e outras histórias, meu segundo livro solo publicado, sétimo no total, é uma coletânea de histórias escritas entre 2006 e 2010, que reflete os valores e ideias que me assaltavam naquele momento. Conta com apresentação do escritor Ronaldo Cagiano e inclui 25 contos que giram em torno dos temas solidão, tristeza, melancolia e depressão. Alguns dos contos incluídos no livro podem ser lidos, em suas versões-rascunho, aqui mesmo no blog. Todos eles passaram por revisão […]

Nasceu “O Reino Esquecido”

Iniciado durante uma semana literalmente febril de junho de 2008, este romance “pseudo-histórico” e doentio é a mais nova obra de minha autoria que consigo terminar. Ainda não sei o que farei dele, que ficou pequeno e confortável para um concurso, se bem que essa simples postagem contendo seu título pode lhe remover o ineditismo segundo o critério louco de algum concurso obcecado em premiar somente quem escreve para a gaveta. O processo de criação deste romance contém todos os erros e equívocos possíveis de […]