Elogio para Manu

Quando o mundo parece excessivamente careta, excessivamente nos trilhos, quando o triunfo inevitável da monocultura ideológica parece impossível de contornar; somente a juventude pode nos salvar. Os partidos e as ideologias perdem força quando envelhecem, perdem a criatividade atrevida que somente os jovens, os que nunca erraram para aprender o medo, conseguem ter. Nesse país onde todos os meios de imprensa estão acometidos por um misterioso vírus que faz sumir o nome de personalidades e siglas de partidos de oposição quando a manchete é sobre […]

Impressões (Apenas as Positivas) da Leitura da Série “Harry Potter”

Tenho a certeza de que alguns dos que lerão este texto se surpreenderão por sua simples existência, outros não entenderão sua razão de ser, mas os poucos que me acompanham há algum tempo logo entenderão todos os porquês. Já faz algum tempo que eu participo de debates literários nas redes sociais e a minha posição mais frequente nestes é sempre no sentido de criticar os “best-sellers”, nacionais e estrangeiros, e glorificar obras que têm um pulso mais lento e firme. No entanto, os tais poucos […]

Textos Apodrecem

Enquanto luto aqui para tentar terminar o romance “Amores Mortos” (terceira versão), recebo algumas opiniões interessantes de minhas leituras beta. A primeira delas, e a que tem me feito mais pensar, é que duas das leituras puderam identificar, com certa facilidade, a sequência em que as partes do texto foram escritas. Considerando que todo ele foi escrito em 2010, com algum retrabalho em 2012 e agora a reescrita do primeiro capítulo, o intervalo total entre o texto mais antigo e o mais novo é de […]

Artistas Devem Ser Progressistas?

Caetano Veloso, que já foi melhor sintonizado com tal “espírito do tempo”, indagou dia desses se é preciso que o artista seja progressista. A pergunta, claro, surgiu por causa da campanha feita por alguns artistas ― entre eles Roger Waters ― para que ele e Gilberto Gil não participassem de um festival de música em Israel. Embora eu acredite que o artista tenha o direito de tocar em Israel se quiser, a maneira como Caetano reagiu à cobrança que lhe fizeram foi extremamente danosa à […]

“A Falta do Grande Romance Brasileiro”, Segunda Versão

> Esta é a versão que postei no próprio site do Rodrigo Gurgel, mais enxuta e mais direta ao ponto. Eu tenho uma tese sobre o assunto, que ouso compartilhar aqui: a literatura brasileira padece de diletantismo e isso lhe causa uma perda de foco e de profundidade. “Diletantismo”, eu digo, porque nós não temos uma estrutura para revelar, remunerar e orientar a formação dos escritores. Não há revistas publicando contos, não há prêmios literários sérios e amplamente divulgados, não há perspectiva de carreira para […]

Uma Tentativa de Explicar “A Falta do Grande Romance Brasileiro”

Dizem que deu na Folha, mas eu não leio jornal mais — então eu só fiquei sabendo através do blog do Rodrigo Gurgel, o polêmico crítico literário, de quem tenho aprendido a gostar (falo do blog e não do crítico, porque conhecer o primeiro não equivale a conhecer o segundo). Para quem não sabe do que estou falando, dou um resumo e deixo o [link](http://rodrigogurgel.com.br/2015/06/a-falha-do-romance-brasileiro/) para quem queira ler o texto inteiro (e eu recomendo, pois vale a pena). Gurgel recorda Nélson Ascher e Manuel […]

Bonitinha, Mas Ordinária — Um Filme que Explica o Brasil

Esta semana, na ressaca do feriado, assisti pela segunda vez um clássico de nosso cinema, baseado em obra ainda mais clássica de Nélson Rodrigues, o Anjo Pornográfico, nosso mais polêmico autor. Trata-se de uma obra que precisa ser melhor apreciada, embora o filme mesmo tenha envelhecido sob vários aspectos – e ainda que as polêmicas abordadas pelo enredo já não sejam tão relevantes no mundo de hoje. Digo que o filme precisa ser mais visto porque a obra de Nélson Rodrigues, cada vez mais, parece […]

O Método Asimov

O amigo João Gerônimo dos Santos se mostra espantado com um texto em que Isaac Asimov descreve o processo de criação do épico “Fundação”. Não pela sua dificuldade, mas pela forma como o autor o apresenta: sem *glamour* e sem divina centelha (também conhecida como “inspiração”). Para Asimov, o processo foi algo assim: Eu tinha um encontro com o Sr Campbell para conversar sobre o enredo de um novo livro, mas o problema é que, até a reunião começar, eu não tinha enredo nenhum preparado. […]

“Riding the Lightning”

A primeira impressão de que eu estava no começo de algo estranho foi quando ouvi um tinir metálico vagamente ritmado. Logo acompanhado por vibrações graves e um zunido agudo que ia e vinha, numa oscilação que me pareceu familiar. Eu caminhava por uma rua estranha, muito ampla, com uma linha férrea à minha esquerda e uma linha de edifícios que, parede a parede, muravam o horizonte. As pessoas ao meu redor se vestiam para um frio moderado e não pareciam ouvir as mesmas sensações musicais […]

O Fetiche do Número na Literatura

“Ultimamente eu venho me sentindo como quem escreve no meio de uma guerra.” Este é um sentimento ecoado por um jovem autor americano, diante das ideias que predominam no meio literário de lá. Ideias que, como um lento veneno, se espalham pelo mundo e vão esterilizando outras literaturas, até transformá-las no cadáver ambulante e perfumado em que se transformou a ficção ianque. Os novos autores parecem obcecados por não escreverem bastante rápido ou com suficiente frequência, somo se fossem galinhas obrigadas a manter uma quota […]