Matem-se

Segundo me contou o meu amigo, também escritor, Emerson Teixeira Cardoso, ele trocou correspondência com Eugene Ionescu quando era jovem. Ao ouvir isso, fiquei excitado e lhe perguntei que grandes revelações o mestre do absurdo lhe fizera, pois ele e alguns amigos tinham justamente um grupo de teatro amador em nossa Cataguases natal, na época da suposta correspondência.

Celebridade

Na “praça de alimentação” de um grande shopping em uma cidade razoavelmente grande as pessoas, de vários tamanhos e cores, se amontoam em torno de mesas e competem pela atenção dos garçons. Termino de comer um sanduíche, sem me sentar e vou saindo daquela aglomeração opressiva quando percebo um diálogo divertido acontecendo numa das mesas. Aparentemente uma moça pedira licença a um desconhecido para se sentar em sua mesa, e ele aproveitara a oportunidade para apresentar-se e tentar alguma coisa.

Uma Noite em 1993

Era 1993 e eu estava voltando da faculdade, tarde da noite. Havia um burburinho de flamenguistas em um bar assistindo Boca x Flamengo. Os argentinos ganhavam por 1 x 0. Aproximei-me receoso para ver o placar e justo quando cheguei os argentinos marcaram. Gritei Goooooooooooooool e de repente me vi cercado de olhares ferozes. Algumas pessoas se levantavam da cadeira. Sebo nas canelas. Mas era difícil correr gritando— Felizmente sobrevivi para contar a história, e sobrevivi feliz!

Os Idiotas Eram Sós…

…ou não andavam tão bem acompanhados. Era um mundo melhor, no qual você não se fazia ouvir nem na esquina, mas podia pelo menos desfrutar da doce sensação de que as suas ideias não seriam incompreendidas e ridicularizadas por idiotas. O ser idiota é um ser coletivo, gregário, agremiado, associado, mesmo que informalmente. Ninguém consegue ser realmente um idiota quando está sozinho porque o eco das paredes nos dá a estranha sensação de que não somos geniais ou, ainda pior, de que nossa genialidade nunca […]

O Mago e o Insuportável

Reconhecidamente autor de obras insuportáveis para quem efetivamente lê, em vez de comprar para enfeitar estante ou para ter «lições de vida», Paulo Coelho se tornou o pivô de uma curiosa briga na internet nas últimas semanas. Eu, como sempre, marido traído em matéria de notícias culturais, fiquei sabendo só agora. Em uma postagem no Twitter, o Mago chamou de insuportável o novo livro de Mário Sabino. Achei a atitude do mago bastante imoral, embora o livro criticado seja mesmo, provavelmente, difícil de suportar. Para […]

Não me Peçam de Graça o que Tenho para Vender

Reza uma lenda urbana que um certo cantor gaúcho certa vez entrou em um boteco e encontrou um palhaço comendo uma coxinha com Coca-Cola. Um palhaço desses que animam festa infantil e vendem balões na praça. Dizem que o famoso cantor, bêbado ou drogado (sabe-se lá), implicou com palhaço dizendo-lhe: “Ei, palhaço, faz uma palhaçada para a gente aí”. O palhaço, talvez já de paciência esgotada por aguentar crianças, ou por não ser a primeira vez que lhe provocavam, deixou a coxinha sobre o balcão […]

Raso, Largo, Estreito, Profundo?

A falta de profundidade é uma necessidade quando se escreve para pôr no Orkut, onde textos mais complexos geram comentários depreciativos de pessoas que os consideram… complexos demais. Felizmente já há um bom tempo em que eu não levo o Orkut tão a sério e brindo-o apenas com meus rascunhos, para talvez detectar pontos potenciais que possam ser melhorados. Cheguei a essa conclusão porque entendi que os leitores daqui não apreciarão o que eu escrevo de jeito nenhum. Nem quando eu estiver dentro do tema, […]

O Blog de Um Milhão de Reais

Maria Bethânia atraiu uma grande reação quando “se soube” que ela teria apresentado ao Ministério da Cultura um projeto para desenvolver um *blog* de poesia e obtido uma licença para captar R$ 1.300.000,00 (coloquei assim, com todos os zeros, para que vocês possam tentar visualizar melhor a cifra). Seguiu-se grande indignação pilotada pela mídia amestrada (aquela que abana o rabo quando lhe mostram o osso de uma polêmica) e surgiram desmentidos e explicações. […]

A Piada Não Tem Mais Graça

Não sei se já contei para vocês que sou fã dos Smiths. Para mim não existe letrista mais agudo e inteligente do que Morrissey, que é simplesmente aquilo que Renato Russo queria ser quando crescesse. Em suas letras ácidas e amargas ele descasca e devassa as conturbadas relações informais de poder que se estabelecem no convívio entre os seres humanos. Mas não escrevi esta crônica para louvar os Smiths, apesar de todo meu fascínio por versos como “Se não for amor será a bomba que […]

À Flor do Maracujá – Análise Iconoclástica

Fagundes Varela, notório poeta do romantismo brasileiro, foi um ser humano à frente de seu tempo, ousando externar em sua literatura coisas que somente Raul Pompeia voltaria a abordar, quase cinquenta anos depois. No caso específico deste poema, pode-se argumentar uma influência de Rimbaud e Verlaine quanto à temática, ainda que isto não esteja claro. Segundo Gretovski (1969, p. 21), o poema Flor do Maracujá é a primeira obra abertamente homossexual da literatura brasileira. Kuranyi (2000, p. 76) não apenas concorda como interpreta o poema […]