A Casa do Escritor

> Esta postagem é uma obra de não-ficção, que cita e parodia livremente um texto compartilhado na internet, com finalidade satírica e sem fins lucrativos, ancorada na liberdade de expressão e no conceito do *fair use* (embora este ainda não seja consagrado em nossa legislação, já o é em nosso bom senso). Vem aí o mais imperdível evento literário de 2014. Não, não estou falando de Bienal ou Feira do Livro, estou falando de uma novidade: um *reality-show* de escritores, sem a parte do *show*, […]

A Fila Não Incomoda

“A Fila Não Incomoda”: Um Manifesto Contra a Jornada do Herói e em Favor do Direito de Fazer Tudo Errado foi uma série de artigos que escrevi entre maio e junho de 2014, baseada em minhas leituras de alguns artigos críticos do conceito do monomito de Joseph Campbell. Estes artigos foram consolidados neste texto único, divido em partes usando a ferramenta do WordPress que eu só descobri hoje. Originalmente foram oito partes, mas eu acrescentei uma nona, e também uma conclusão e uma bibliografia. Os […]

A Qualidade Não É uma Roupa

Alguns críticos de arte costumam detectar a decadência da arte helenístico-romana (e por conseguinte da civilização mediterrânea antiga) justamente no momento em que acontece a separação entre o a construção e o ornamento. Pois aí, a arte deixou de ser vista como uma expressão para se tornar um opcional. O pragmatismo acabou triunfando sobre a beleza, favorecendo escolhas menos estéticas para favorecer maior funcionalidade. O resultado, a longo prazo, é o fim da bela arquitetura, substituída pela arquitetura grandiosa e resistente, não necessariamente bela. O […]

Dicas de Escrita, ou: Porque Escrevo Tão Mal

Escritores escrevem e há uma variedade de gêneros possíveis para a satisfação de todas as categorias de pessoas dadas à gra­for­reia. Versos costumam ser o começo de muita gente, embora hoje tenham perdido parte de sua popularidade para a microficção. A ficção pre­domina, por combinar a atração dos best-sellers com a possibi­lidade de extravasar a criatividade, ou seja, essa capacidade que o jovem tem de reescrever as histórias que leu nos livros ou viu nos filmes. Só com o tempo o autor se revela, a maioria nunca. Daí quem começou poeta pode terminar escrevendo ficção comercial, quem começou escrevendo pornografia pode terminar filósofo. A maioria termina não escrevendo mais.[…]

Não Tenho Mais Medo de Andar na Contramão

Compartilharam no Facebook o conselho dado por dois autores americanos (de que nunca ouvi falar) segundo o qual devemos perder o medo de escrever sobre “what we don’t know”. Os demônios da tradução criaram a ambiguidade entre “saber” e “conhecer” e assim surgiu um ótimo tema para debate. Em inglês tal conversa seria impossível, pois os dois verbos se amalgamam em um único. Mas em português há uma rica semântica na oposição deles, e podemos tergiversar sobre o proveito de escrever sobre o que não […]

A Morte da Escrita É a Falta de Tempo

Quando eu era estudante, deparei-me certa vez com uma trova portuguesa, cuja auto­ria se perdeu nas trevas, que dizia o seguinte: “o tempo não me dá tempo/ de bem do tempo fruir / e nessa falta de tempo / não vejo o tempo fluir”. Como sempre ocorre quando nos deparamos com verdades que ainda estamos verdes para comer, demo­rei trinta anos para começar a digerir estes quatro versos singelos. A tristeza do escritor é a de não ter tempo para escrever, não poder desenvolver as […]

Apaixonei-me pela Vilã, e Agora?

Tenho uma relação de amor e de respeito com os meus personagens. Antes que você, leitor, me elogie por tal postura, devo confessar que isso é uma maldição nos dias de hoje. O público não quer, de fato, personagens respeitáveis, mas anti-heróis. Heróis não são mais críveis, ninguém mais leva a sério quem se move por um ideal. E por causa disso a relação de respeito que tenho por meus personagens, especialmente os que se parecem demais comigo, é um fator de descrédito da minha […]

O Rabo que Abana o Cachorro

Na minha postagem anterior ficou parecendo até que eu sou contra o autor fazer divulgação do seu trabalho. Não é nada disso. Não há nada de errado se o autor opta por divulgar seu trabalho, do jeito que pode. O que está errado é a inversão de prioridades que está ocorrendo: esta disponibilidade do escritor em divulgar o que faz ser percebida pelas editoras como um fator para dar preferência a tais autores. A tese de Danilo Venticinque diz que nenhuma editora preferiria um autor […]

Nós, Os Ridículos

Depois que Rafael Draccon afirmou que não publicaria Rubem Fonseca e recebeu as merecidas críticas, outros próceres do mercado editorial não tardaram a sair em sua defesa. Diferentemente de Draccon, que disse o que disse quase que por ingenuidade, os novos artigos são premeditados para alcançarem um efeito. E para isso empregam toda a técnica argumentativa que disfarça o absurdo óbvio (“não publicar Rubem Fonseca”) e enfatiza um novo modelo de negócio no qual o absurdo é o lugar comum. O artigo que eu me […]

Pingos nos Is

Após causar fúria na blogosfera literária e nas redes sociais com as suas opiniões sobre literatura, o escritor e editor Rafael Draccon resolveu se explicar. Não devia, mas resolveu. Digo que não devia porque explicações nunca explicam de verdade. Toda explicação é um remendo. De que adianta agora dizer que não disse? Quantos lerão o desmentido? Mas, pior, quantos acreditarão na sinceridade do desmentido, escrito com a cabeça fria e analisando ponto a ponto o que foi publicado? Por isso, na necessidade de contestar o […]