Dicas de Escrita, ou: Porque Escrevo Tão Mal

Escritores escrevem e há uma variedade de gêneros possíveis para a satisfação de todas as categorias de pessoas dadas à gra­for­reia. Versos costumam ser o começo de muita gente, embora hoje tenham perdido parte de sua popularidade para a microficção. A ficção pre­domina, por combinar a atração dos best-sellers com a possibi­lidade de extravasar a criatividade, ou seja, essa capacidade que o jovem tem de reescrever as histórias que leu nos livros ou viu nos filmes. Só com o tempo o autor se revela, a maioria nunca. Daí quem começou poeta pode terminar escrevendo ficção comercial, quem começou escrevendo pornografia pode terminar filósofo. A maioria termina não escrevendo mais.[…]

Yuri e Natasha

Enquanto pesquisava sobre música soviética, em relação àquele post malu­qui­nho sobre a música do jogo Super Mario World ter sido baseada no Hino da União Soviética, fui tendo contato com o universo musical comunista e entendendo como era sufocante a vida cultural então. Certamente nem eu e nem você gostaríamos de viver aquilo. Imaginemos então o nosso herói, o Yuri, um exímio guitarrista, que estudou guitarra clássica no conservatório e atravessou a adolescência ouvindo discos contrabandeados de Black Sabbath, Beatles, Bee Gees, Pink Floyd e […]

Os 12 Mais Belos Parágrafos da Obra de H.  P.  Lovecraft

Tido como um autor menor da literatura americana, Howard Phillips Lovecraft, a exemplo de Edgar Allan Poe, goza de uma reputação muito melhor em outros países. Certamente isto se deve à capacidade de seus tradutores, que conseguem filtrar aquela que é justamente a má qualidade mais notada em sua prosa: a falta de fluidez, causada pelo vocabulário excessivamente precioso e pela tendência a períodos longos. Publico a seguir uma seleção dos doze melhores parágrafos da ficção lovecraftiana **em minha modesta opinião**, segundo minha tradução pessoal. […]

Os Dez de Pablo Conejo

Duas notícias bombásticas marcaram a Feira Literária Internacional de Frankfurt, esta semana. A primeira foi o épico discurso de Luiz Ruffato (conterrâneo meu, ó que orgulho!), discorrendo sobre o ser escritor em um país como o Brasil. A segunda foi a revolta daquele a quem todos amamos, ou amamos odiar, o alquimista de ideias, mago pluvífero, doutor em ventriloquia cardíaca e etc. Da primeira notícia, nada declarar pois seria supérfluo fazer mais do que recomendar a leitura do texto registrado pelo autor daquela obra genial, […]

Procuramos Escritores Amestrados

Houve um tempo em que a epítome da injustiça poética era julgar o livro pela capa. Não só esse julgamento ficou mais difícil hoje, dada a proliferação das facilidades para produzir belas capas, como se tornou mais violenta a briga em torno dos acessórios. Afinal me parece que, no mundo editorial, faz-se de tudo para não ter que lidar com literatura, afinal [sic]. Por acessórios eu me refiro a tudo aquilo que se espera que os escritores façam, além de escrever. Não basta o cara […]

A Serpente com Asas

Dedicado +Félix MaranganhaConfesso que tive durante muito tempo uma certa resistência preconceituosa contra a tatuagem. Coisa de marinheiros, de presidiários, de maconheiros, de nefelibatas, de mafiosos japoneses que amputam os próprios dedos. Nada que caiba no quadrado perfeito em que inscrevo minhas opiniões. O tempo, porém, foi me educando mais a respeito do tema e eu fui percebendo que há tatuagens e tatuagens… Algumas eu posso apensa desconsiderar, outras são realmente desprezíveis, algumas eu devo temer e a maioria é simplesmente sem sentido.

A Ficção de Clark Ashton Smith

Há momentos na história da lite­ratura em que os veí­culos mais inusi­tados dão vazão ao talento de autores competentes, resultando em obras de insus­peita quali­dade que, infeliz­mente, tardam em receber o devido reco­nhe­ci­mento devido ao precon­ceito moti­vado justamente pelos veículos em que foram publicadas. Um desses momentos foi o período entre-guerras nos Estados Unidos, quando floresceram revistas mensais de folhetim conhecidas como “pulp fictions”. Impressas em papel barato e vendidas a preço baixo, destinadas à classe operária, não deixaram, por isso, de contar com autores de primeira grandeza porque ofereciam um veículo para a profissionalização de quem desejasse começar na literatura.

Impressões Deixadas por “Stalker”, de Andrei Tarkovsky

Ontem, já no comecinho da madrugada, terminei de assistir, via YouTube, o filme “Stalker”, dirigido Andrei Tarkovsky, filmado em 1979, a partir de roteiro escrito pelo próprio diretor, baseado no romance “Piquenique na Estrada”, dos irmãos Bóris e Arcádio Strugatsky, gênios da ficção científica soviética. Romance este que eu já havia comentado elogiosamente aqui, não faz muito tempo.

Uma Brevíssima e Amadora Análise do Conto Medieval Português «A Dama Pé de Cabra».

Incluído nos “Livros de Linhagens” da nobreza lusitana está um breve relato sobre a família de Diego Lopes, que inclui uma personagem que ficou célebre: a misteriosa mulher montanhesa com pés de cabra. Tata-se de uma história interessante por envolver profundamente as fantasias populares lusitanas (e estas fantasias, claro, ecoam na nossa própria cultura). Aspectos culturais Como se verá, a deficiência física (um pé deformado) era um sinal de deficiência moral. A Dama Pé de Cabra é apresentada como uma espécie de bruxa, e o […]

Tivemos Futuros Promissores

Américo dizia-se amargo de propósito: queria treinar rabugice para quando fosse famoso. Então poderia esnobar entrevistas e desfilar namoradas bonitas em carros do ano. Não conseguia nem ficar famoso e nem realmente ser amargo: era apenas triste e apagadiço. Sentava-se na primeira das carteiras para fingir ser estudioso, mas andava sempre com notas ruins e sapatos rigorosamente engraxados. Meticuloso em suas escolhas, enquanto não ficava famoso e amante de modelos perfeitas deixou-se namorar por Jaqueline, que era vesga, magra, sardenta, desconjuntada e fanha. Casou com […]