Porque Desprezar o Português

Onde algo é sacralizado, é natural que surjam os contestadores. O iconoclasmo é uma espécie de rito de passagem  para os jovens e uma marca de “independência” dos mais maduros. Provocar essa irreverência é uma maneira eficaz de manipular as pessoas: tendo um judas para chutar o indivíduo acredita que é um contestador, e obedece aos comandos, subreptícios ou explícitos, e segue mais ou menos na direção que interessa ao provocador. Identificado um alvo tido por muitos como sagrado, é muito fácil reunir uma turba de pessoas para cuspir nele, com a desculpa de que estão fazendo a revolução.

Rebola e Dá um Gritinho

Bem, sacode o negócio agora, menina (sacode o negócio) Rebola e dá um gritinho (rebola e dá um gritinho) Vem, vem, vem, vem cá, menina (vem cá, menina) Vem cá fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer) Bem, fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer) Você sabe que você é muito boa (é muito boa) Você sabe que você me bota para andar (me bota para andar) Do jeito que eu sabia que andaria (eu sabia que andaria) Bem, […]

A Falta Que Faz a Profissionalização

Semana de Carnaval animada e acabo de tomar conhecimento da mais nova travessura do blogue LitFanBR, que costuma esculachar o mercado literário brasileiro, especialmente o voltado para a chamada «Literatura Fantástica» — esse termo genérico para toda obra que inclua coisas que não existem, sejam elas sobrenaturais ou não. Alguém, com o pseudônimo de Super Choque (imediatamente me veio à cabeça a imagem de um nerd negão com óculos de fundo de garrafa e uma fascinação por uniformes) publicou lá um texto que me evocou […]

Continuamos Comprando Espelhos

Não é preciso, absolutamente, discorrer sobre as virtudes de nosso sistema educacional. Mesmo porque, tal discurso não seria suficiente para preencher uma postagem. Suficiente para botar a Indonésia no chinelo e galgando um honroso 36º lugar mundial, graças ao fato de não haver dados sobre a maioria dos países, a nossa educação goza de um status de praga do Egito, apesar de, segundo nosso governo, estar “no caminho certo”. Com alguma boa vontade, querendo crer que ele tem razão, eu diria que demos os primeiros […]

Visita a uma Livraria do Presente do Indicativo

Ontem me dei conta da falta que faz visitar ocasionalmente uma livraria. Estive brevemente na Leitura “Megastore” em Juiz de Fora e pude compreender muito daquilo que tenho visto e lido na internet. Algumas conclusões foram animadoras, outras terríveis, a maioria apenas remete a uma neutra mudança de padrões, oscilações de modas que não mudam nada. Mudam-se as palavras, mudam-se os estilos, permanece uma falta de sentido que denuncia os tempos perigosos que vivemos.[^1]

De Que Modo?

Uma das maiores dificuldades que há no mundo é a de se ensinar. Quem tenta ensinar geralmente se expõe. Não raramente surge a cobrança da legitimidade: Como você quer me ensinar a falar inglês sem ser nativo? Como vai me ensinar música se toca toscamente esse violão? Como vai me ensinar a dirigir se tem carteira de motorista e seguro de automóvel há dez anos e o seu bônus é zero? Como vai me ensinar a desenhar se os seus personagens parecem tortos no papel? […]

Matem-se

Segundo me contou o meu amigo, também escritor, Emerson Teixeira Cardoso, ele trocou correspondência com Eugene Ionescu quando era jovem. Ao ouvir isso, fiquei excitado e lhe perguntei que grandes revelações o mestre do absurdo lhe fizera, pois ele e alguns amigos tinham justamente um grupo de teatro amador em nossa Cataguases natal, na época da suposta correspondência.

Literatura e Consciência

Por que fazer literatura? Não há resposta bastante abrangente que resuma a experiência de escrever. A obra é um orgasmo — alguém já disse — mas orgasmo é um instante fugidio, é como tentar tocar o intangível e, após tê-lo vislumbrado muito perto, quedar esvaziado. Por que, então, amamos? Igualmente não há resposta. Todos se sentem tristes após o sexo, o orgasmo é um vazio que nos preenche inteiramente. Nem para o amor e nem para a literatura podemos encontrar uma explicação racional. A não […]

Um Pedaço de Minha História

Há momentos na vida em que nos surpreendo com coisas simples, quase a ponto de algum “suor dos olhos” me embaçar a visão. Sou do tipo emotivo a ponto de não gostar de filmes de guerra para não ver carnificina, mesmo que fictícia, e costumo achar finais felizes para meus personagens. Quão mais emotivo não sou quando me deparo com pedaços de minha própria memória recuperados por pessoas com quem interagi!